O império vê a si mesmo
Entre 1999 e 2009, a participação das exportações
norte-americanas para o mundo caiu em quase todos os setores. A participação em
2009 dos Estados Unidos no segmento aeroespacial era de apenas 36%, em
tecnologia da informação de 9%, de 8% em equipamentos de comunicações e de 3% veículos
leves.
Os dados são de matéria publicada pela The Economist.
Nesse período, o crescimento do emprego no setor privado
diminuiu drasticamente em função das sucessivas perdas de competitividade da
indústria em relação a sua concorrência mundial. O rendimento médio anual
cresceu apenas 2% entre 1990 e 2010.
A matéria do The Economist registra ainda que a
edição de março da revista Harvard Business Review está dedicada à "competitividade
americana". Isto é, à capacidade do país em melhorar a produtividade e o
padrão de vida de seu povo.
A crítica naturalmente está dirigida aos sucessivos governos
dos Estados Unidos, nesse período, sem indicar políticos ou partidos. Michael Porter e Jan Rivkin da Harvard
Business School afirmam que "O governo dos EUA não está combatendo as fragilidades
existentes no ambiente de negócios do país e que estas deficiências tornam o do
país um lugar menos atrativo para investir”. Afirmam ainda que “as maiores vantagens
competitivas da América estão sendo anuladas pelo descuido dos governantes.”
Pesquisa feita entre ex-alunos da Harvard revela que 71% dos
entrevistados acreditam que a competitividade americana diminuirá nos próximos
anos.
América já não consegue, como antes, atrair para si os
melhores empregos. As empresas multinacionais (que pagam salários mais altos
que qualquer outra empresa) aumentaram a oferta de emprego, nos Estados Unidos,
em 24% na década de 90. Mas, desde então, elas foram cortando esses empregos em
território americano. A proporção dos empregados de multinacionais americanas
que trabalham para subsidiárias no exterior subiu de 21,4% em 1989, para 32,3%
em 2009. Os gastos em pesquisa e desenvolvimento também estão migrando para
suas subsidiárias no exterior, tendo subido de 9% em 1989, para 15,6%, em 2009.
Os investimentos em capital humano no exterior também cresceram de 21,8% em 1999,
para 29,6% em 2009.
Na pesquisa da HBS, os ex-alunos relataram que, quando suas
empresas tiveram que decidir sobre investimentos na América ou em outro lugar,
a América perdeu em dois terço das vezes.
Esta deterioração relativa no clima empresarial coincidiu
com um aumento espetacular da renda dos administradores de empresas. Nesse
aspecto, as maiores críticas se concentram nos sistemas de benefícios que
privilegiaram os administradores. Gerentes ganharam prêmios enormes
simplesmente porque o mercado subiu, independentemente de, pessoalmente, ter
adicionado algum valor à operação sob sua responsabilidade.
A HBR ensaia um final feliz, recorrendo, com alguma
melancolia, às palavras de Bill Clinton, em seu primeiro discurso aos Estados
Unidos, como seu presidente: “não há nada errado com a América que não possa
ser corrigido por ela mesma”. O país tem enormes vantagens competitivas, a
partir de suas universidades e de sua tolerância de correr riscos. Tem um
mercado altamente diversificado: empresas que buscam mão de obra barata podem
se transferir para o Mississipi, onde os salários são um terço mais baixos do
que aqueles em Massachusetts.
Mas, o fato é que a The Economist põe sérias dúvidas em
relação à possibilidade política do país encaminhar essas decisões. E a matéria conclui que, se
estiver certa, claramente a economia norte-americana perderá seu dinamismo e
competitividade.
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