A culpa é dos veículos, ou de seus
compradores?
Aumento da inadimplência está determinado, no
mês de janeiro, pela compra de veículos, conforme informa o Banco Central. A informação
confirma os dados da pesquisa feita pela Fractal sobre as inadimplências entre
pessoas físicas. Essas pessoas não atrasariam contas de luz ou de telefones,
pois os cortes desses serviços são quase imediatos. O automóvel certamente não.
O consumidor aprendeu que em épocas de crise, melhor optar por atrasar itens de
suas despesas que não sejam essenciais. Melhor ainda, esses créditos costumamser
negociáveis junto aos credores. As negociações reduzem o valor das dívidas,
abrem novas parcelas de menor valor, etc., etc., etc. São as lições que o
sistema financeiro deixou para seus clientes em tempos de crise: não pague,
negocie!
De forma contrária ao que tem se divulgado na
imprensa, penso que essa inadimplência ainda deverá subir. E isso pelo fato de os
gastos das famílias ter aumentado significativamente em 2011. Em relação a
2010, o aumento foi de 50%. Os ganhos reais não aumentaram nessa velocidade e,
claramente, o problema da inadimplência deriva dessa proporção que a cada dia
torna-se menos adequada. Em verdade, essa relação não é tão direta quanto esse raciocínio simplificado deixa entrever. Mas ele é ilustrativo do desequilíbrio apontado.
Não há como sustentar no Brasil um modelo econômico
expansionista, com suas famílias tendo atingido um grau tão alto de endividamento.
Isso, em meio a uma crise internacional como essa que vivemos, é um limite
claro à expansão baseada exclusivamente no mercado interno.
Por outro lado, os bancos grandes perceberam
a armadilha que estava armada na economia para as pessoas físicas e rapidamente
afastaram-se dos financiamentos a veículos, deixando-os no colo dos bancos pertencentes
às montadoras. É provável que as posições financeiras desses bancos tenham se
deteriorado um pouco nesse período.
Nesse país tudo passou a ser explicado pelas
autoridades monetárias por meio do mágico nome de “medidas macroprudenciais”. É
muito nome para um fenômeno mais simples e conhecido. A população gastou mais
do que podia. Agora, endividada, não consegue pagar. O sistema financeiro vai
negociar de novo.
Importante seria observar que o estoque de
crédito às pessoas físicas reduziu-se. E não por outra razão que o super endividamento.
Entre as pessoas jurídicas isso também é
verdadeiro. As grandes corporações não são as responsáveis por isso. Antes de nada,
estão capitalizadas e são, portanto, aplicadoras. Só aparecem na ponta dos
tomadores nas ocasiões em que precisa de recursos para os grandes projetos que,
nesse instante, dada a instabilidade monetária, estão postergados.
Entre as pessoas jurídicas pequenas e médias,
a necessidade de capital de giro cresceu muito rapidamente de dezembro para cá.
As vendas de final de ano foram menores do que se imaginava. Em seguida, o mês
de janeiro mostrou-se bastante fraco em termos de vendas. Ora, os estoques
cresceram e as condições de comercialização pioraram. Com as duplicatas
vencendo, os estoques altos e maiores prazos de financiamentos de suas vendas,
a necessidade de recursos de terceiros aumentou. Mas o sistema financeiro,
assustado com a inadimplência desse segmento e vendo crescer o risco, reduziu
sua oferta de crédito. Com isso o estoque de crédito em janeiro para as pessoas
jurídicas diminuiu.
As famílias e as empresas de pequeno e médio
portes precisam aprender a viver dentro de orçamentos e de perspectivas mais
realista. Do contrário, a imprevidência financeira vai ser explicada e
atribuída ao que se imagina ser macroprudente.
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