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domingo, 26 de fevereiro de 2012

Especialistas parecem- se com aves agourentas

Maus presságios confundem
tendências com temores
É verdade que para 2012 a expectativa é de captação mais cara de recursos. Também é verdade que a regulação bancária deva exigir uma maior capitalização dos bancos médios. E também é verdade que os bancos grandes precisam ampliar seus ativos, estabelecendo uma concorrência mais acentuada em linhas de créditos que fazem o “core business” dos bancos menores.
Em ambiente tão restritivo, especialistas começam a ver urubus sobrevoando as carniças e isso faz crer que as fusões devam se intensificar em 2012.
Não acredito. Os ganhos dos grandes bancos são nessas aquisições muito pequenos. Por isso, imaginá-los como urubus à busca de alimentos é um erro estratégico razoável. Compras de carteiras de créditos são possíveis, mas a aquisição de banco médio, como elemento indutor de crescimento de banco grande, dificilmente aconteceria nesse cenário. Quero ressalvar apenas o caso de algum incentivo, de última ora, fornecido pelo Banco Central para evitar desequilíbrios nos sistema financeiro nacional.
O negócio banking tem se revelado um negócio de custos operacionais muito altos, de riscos elevados e, no Brasil, de rentabilidade decrescente nos próximos anos. Os riscos e os custos crescerão muito rapidamente nos próximos períodos e, mesmo que a liquidez excessiva em todo o mundo reduza os custos de captação, os spreads deverão sofrer reduções expressivas pela dificuldade de colocação dos recursos captados em clientes que representem qualidade de crédito aceitável.
O momento brasileiro, com crescimento econômico, ampliação da renda real e com uma política expansionista do crédito, esconde esses fatos.
No fim de 2011, o Banco Central entrou em socorro dos bancos menores, reduzindo a remuneração de parte dos depósitos compulsórios, obrigando aos bancos de maior porte a comprar ativos de bancos menores para obter a remuneração integral de seus compulsórios. De certa maneira, a medida alcançou seus objetivos, por meio de aquisições de letras financeiras e carteiras de crédito. Com o tempo, foi perdendo sua eficácia e o que se ouve no mercado é que os bancos maiores preferem deixar seus recursos sem remuneração, parados no Bacen, a aplicá-los na compra de ativos, cujos créditos parecem de qualidade duvidosa.
É momento de repensar o negócio dos bancos médios. Deveriam, de fato, ser bancos? Bancos encontram-se muito regulados e, como dissemos, com custos operacionais tão altos que só grandes economias de escalas podem viabilizá-los.
Parece haver espaços, no mercado brasileiro, para novos tipos de intermediários financeiros, submetidos a uma circunstância legal diferenciada. Não devem ser equiparadas às financeiras, pois são capazes de muito mais. Não podem ser hodings a comandar um portfólio de fundos, pois essas empresas têm escopos muito limitados. Factorings são risíveis.
A solução não está desenhada, mas a desintermediação continua sendo um fato crescente na economia nacional, sinalizando para espaços que podem ser preenchidos por novas formas jurídicas de se fazer negócios nesse setor.
Em ocasiões como essa, lembro-me do nordestino de alma grande, Luís Câmara Cascudo: "O pescador é o profissional do silêncio. O jangadeiro deve ser silencioso no meio da musicalidade selvagem do mar."

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