Maus presságios confundem
tendências com temores
É verdade que para 2012 a expectativa é de captação
mais cara de recursos. Também é verdade que a regulação bancária deva exigir
uma maior capitalização dos bancos médios. E também é verdade que os bancos
grandes precisam ampliar seus ativos, estabelecendo uma concorrência mais
acentuada em linhas de créditos que fazem o “core business” dos
bancos menores.
Em ambiente tão restritivo, especialistas começam a ver urubus sobrevoando as carniças e isso faz crer que as fusões devam se intensificar em
2012.
Não acredito. Os ganhos dos grandes bancos são nessas
aquisições muito pequenos. Por isso, imaginá-los como urubus à busca de
alimentos é um erro estratégico razoável. Compras de carteiras de créditos são
possíveis, mas a aquisição de banco médio, como elemento indutor de crescimento
de banco grande, dificilmente aconteceria nesse cenário. Quero ressalvar apenas
o caso de algum incentivo, de última ora, fornecido pelo Banco Central para
evitar desequilíbrios nos sistema financeiro nacional.
O negócio banking tem se revelado um negócio de
custos operacionais muito altos, de riscos elevados e, no Brasil, de
rentabilidade decrescente nos próximos anos. Os riscos e os custos crescerão muito
rapidamente nos próximos períodos e, mesmo que a liquidez excessiva em todo o
mundo reduza os custos de captação, os spreads deverão sofrer reduções
expressivas pela dificuldade de colocação dos recursos captados em clientes que
representem qualidade de crédito aceitável.
O momento brasileiro, com crescimento econômico, ampliação da renda real e com uma política expansionista do crédito, esconde
esses fatos.
No fim de 2011, o Banco Central entrou em socorro
dos bancos menores, reduzindo a remuneração de parte dos depósitos compulsórios,
obrigando aos bancos de maior porte a comprar ativos de bancos menores para
obter a remuneração integral de seus compulsórios. De certa maneira, a medida
alcançou seus objetivos, por meio de aquisições de letras financeiras e
carteiras de crédito. Com o tempo, foi perdendo sua eficácia e o que se ouve no
mercado é que os bancos maiores preferem deixar seus recursos sem remuneração,
parados no Bacen, a aplicá-los na compra de ativos, cujos créditos parecem de
qualidade duvidosa.
É momento de repensar o negócio dos bancos médios.
Deveriam, de fato, ser bancos? Bancos encontram-se muito regulados e, como
dissemos, com custos operacionais tão altos que só grandes economias de escalas
podem viabilizá-los.
Parece haver espaços, no mercado brasileiro, para
novos tipos de intermediários financeiros, submetidos a uma circunstância legal
diferenciada. Não devem ser equiparadas às financeiras, pois são capazes de muito
mais. Não podem ser hodings a comandar um portfólio de fundos, pois essas
empresas têm escopos muito limitados. Factorings são risíveis.
A solução não está desenhada, mas a desintermediação
continua sendo um fato crescente na economia nacional, sinalizando para espaços que podem ser preenchidos por novas formas jurídicas de se fazer negócios nesse setor.
Em ocasiões como essa, lembro-me do nordestino de alma grande, Luís Câmara Cascudo: "O pescador é o profissional do silêncio. O jangadeiro deve ser silencioso no meio da musicalidade selvagem do mar."
Em ocasiões como essa, lembro-me do nordestino de alma grande, Luís Câmara Cascudo: "O pescador é o profissional do silêncio. O jangadeiro deve ser silencioso no meio da musicalidade selvagem do mar."
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