Alta de Petrobras não é esperada no curto prazo
São Paulo, 1/10/2010 - Anna Flávia Rochas - Agência Leia.Antes da oferta pública da Petrobras, analistas destacavam que as incertezas em relação à operação impediam a valorização dos papéis da companhia. Agora, pós-oferta das novas ações, os profissionais do setor ainda não acreditam em uma forte valorização das ações no curto prazo.
Nesta semana, as ações da companhia caíram, o que já era esperado pelos analistas. "Nesta semana tem muito ajuste e correção pós-oferta. Era esperado esse tipo de volatilidade, com viés de alta", afirma o diretor de Tesouraria da Modal Asset, Eduardo Roche.
Apesar disso, o mercado considera que as incertezas em relação à Petrobras não acabaram. Roche destaca que ainda existe dúvida sobre a exploração do próprio pré-sal, que é positiva mas guarda desafios.
"Os recursos (da capitalização) não são totalmente suficientes para o pré-sal", diz. "O esforço financeiro é grande e vai aumentar. A capitalização foi relevante e importante para a empresa, mas a necessidade de mais recursos está dada", acrescenta. Segundo Roche, os recursos deverão deixar a empresa em situação confortável até 2012.
O economista e professor da Brazilian Business School, Ricardo Torres, comenta que a eventual "arrancada" dos papéis da empresa deverá ocorrer, mas não muito em breve. Os melhores resultados para os acionistas serão gerados quando a empresa colher os frutos da exploração do pré-sal.
Torres avalia que apesar de a empresa ter conseguido levantar uma quantidade de capital significativa, o aumento da participação do governo foi muito grande.
De acordo com as informações divulgadas pela Petrobras, ontem, o governo aumentou a participação no capital votante para 64,25%, se consideradas as participações da União Federal, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), do BNDES Participações e do Fundo Soberano. A participação do governo no capital social da companhia é de cerca de 49%, após a capitalização.
Torres explica que em uma operação de oferta pública considerada "excepcional" pelos investidores, para cada ação ofertada existem quatro compradores. "No caso da Petrobras, se tivesse sido uma boa proporção, a ação PETR4 estaria em R$ 32", diz.
Diante da atual situação da empresa, Torres acredita que as ações irão ficar "de lado" no curto prazo. "A perspectiva é de que a ação PN chegue de R$ 34 a R$ 35 em meados no ano que vem", aponta.
No longo prazo, a produção no pré-sal continua como principal guidance, sendo que ainda existem incertezas em relação ao domínio da tecnologia para desenvolver a atividade.
Torres também menciona que existe um ceticismo quanto ao valor do preço do barril de petróleo definido na cessão onerosa. "US$ 8 me parece muito barato",comenta o economista, sobre o preço do barril na área do pré-sal.
O gerente de Tesouraria do Daycoval, Gustavo Godoy, explica que a operação da Petrobras trouxe um fluxo muito bom de entrada de dinheiro para a bolsa. Ele destaca, entretanto que a alta da Vale nos últimos dias também contribuiu para as valorizações do Ibovespa, e não só a movimentação das ações da Petrobras.
Godoy acredita que a capitalização da Petrobras eliminou algumas incertezas em relação à companhia. "Mas se a ação bater um determinado preço, de R$ 28 a R$ 30, acredito que vá haver realização", diz ao justificar que essa seria a movimentação dos investidores que querem obter ganhos de curto prazo e não "fliparam", ou seja, venderam ações no primeiro dia de negociações da oferta.
Um dos principais fatores que pode afetar a movimentação das ações, segundo Godoy, é a ingerência do governo na companhia. Decisões governamentais, segundo ele, ajudam a motivar uma realização rápida.
Já o economista e presidente do instituto de pesquisa Fractal, Celso Grisi, considera que a capitalização foi um sucesso absoluto, em um momento em que os mercados no mundo todo passam por dificuldades. "Mesmo sabendo que o governo iria aumentar a participação dele, o que não é nunca bem visto pelo o investidor tradicional de papéis, houve entrada", afirma.
Ele critica, no entanto, a alta participação do governo na companhia que, do ponto de vista das contras públicas, não é recomendável. "Isso implica compromisso do governo com a Petrobras", avalia ao ressaltar que o governo poderia estar investindo em outras áreas já que a Petrobras teria condições de operar baseando-se apenas na iniciativa privada.
As quedas recentes dos papéis da Petrobras, segundo ele, são resultado daqueles que estão acomodados na posição, à espera de alta, e da falta de interessados no papel, pós-oferta. "Os papéis ainda devem perder valor por alguns dias", pontua.
Ele acredita que a partir do final de outubro ou início de novembro, o papel volte a valorizar, sendo que a maior recuperação deve ocorrer a partir do ano que vem. "Vai depender do comportamento da economia internacional e aumento do consumo do petróleo".
Ontem, as ações PETR4 caíram 0,76%, a R$ 27,29. Já as ON (PETR3) perderam 1,78%, a R$ 30,40.
Nenhum comentário:
Postar um comentário