Ausência
de política para o
comércio exterior brasileiro
O Peru decidiu apresentar uma queixa formal contra
o Brasil na Organização Mundial do Comércio. A razão alegada é a construção de barreira
técnica à entrada da “sardinha peruana”, a anchoveta, no Brasil.
A base para a reclamação é o Acordo sobre Barreiras
Técnicas ao Comércio da OMC. Os Peruanos
consideram protecionismo brasileiro a limitação imposta pelo Brasil da venda de
sua "sardinha" aqui no país. Do lado brasileiro, as autoridades
afirmam que o peixe peruano pode entrar com a classificação de anchoveta, mas
não como sardinha.
Do ponto de vista da classificação científica, o
Brasil está certo. Mas, fica em jogo um pouco mais do que a mera questão de nomenclaturas
classificatórias, que, em si, é problema de fácil solução. Estamos diante de um
vizinho, com quem dividimos uma área fronteiriça de proporções não desprezíveis
e que tem na pesca um de seus poucos produtos exportáveis. Na região, o Peru
alcançou a posição de grau de investimento, até um pouco antes do que o Brasil,
a custo de um gigantesco esforço fiscal. Naturalmente, assumiu para isso custos sociais também muito
grandes e luta, como nós, para minimizá-los. Por fim, trata-se de um comprador
regional de produtos brasileiros de alguma expressão e que vendeu ao Brasil
apenas US$ 4 milhões dessas sardinhas em 2010.
Essa disputa não interessa ao país, sob nenhum
aspecto que se analise. Só mesmo a falta de sensibilidade política e a
desestruturação da política de comércio exterior poderiam dar guarida às razões
alegadas por empresários, varejistas brasileiros, interessados no mercado das
merendas escolares.
Protecionismo de má qualidade, patrocinado pelo
Ministério da Pesca para proteger a indústria nacional e as prerrogativas cartoriais
dos Ministérios ligados à questão. Fica à margem das discussões o problema da
taxa de câmbio que prejudica o produtor nacional e que parece um mito
gerencial, tido como problema insolúvel. À margem fica também os aspectos da
pesca artesanal, pór si só, não competitiva e pela baixa produtividade do setor
industrial nessa área.
O protecionismo se sustenta em afirmações como a quantidade
de emprego que o setor oferta para o
trabalhador brasileiro: 20 mil pessoas. A argumentação se estende ainda pelo
campo dos preços, onde se supõe que o Peru seria capaz de exportar grandes
volumes dessa "sardinha" e colocar o produto abaixo de R$ 1,00 no
supermercado. A indústria brasileira não teria condições de competir com esses
preços, embora o consumidor nacional viesse a ser beneficiado com a redução de seus gastos na aquisição de proteinas
Ineficiências precisam ser sanadas no bojo dos
sistemas econômicos. Vizinhos pobres precisam ser apoiados para reduzir suas
misérias internas, sem lembrar que o desejo brasileiro de consolidar uma
liderança regional solicita do país atitudes de harmonização política e da
definição de complementaridades econômicas. Já bastam os últimos incidentes politicos e diplomáticos com a Argentina, Parguai, Bolívia e Venezuela.
O Brasil não pode continuar de
costa para a América Latina.
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