Especialistas criticam antecipação de alta
do salário mínimo
Veículo: Portal IG - Klinger Portella, iG São Paulo - Data: 03/11/10Presidente eleita, Dilma Rousseff, diz que governo estuda compensação para o reajuste no ano que vem.
O salário mínimo deve encerrar 2011 na casa dos R$ 600. Foi o que garantiu a presidente eleita Dilma Rousseff, em entrevista concedida nesta quarta-feira, no Palácio do Planalto, em Brasília. O resultado é fruto da regra atual de reajuste, que considera a soma da inflação do ano anterior mais a variação do Produto Interno Bruto (PIB) de dois anos antes. Como em 2010, a economia deve crescer acima dos 7%, a alta do mínimo no fim de 2011 será considerável.
No entanto, pela mesma regra, o reajuste para o início do ano que vem – o primeiro ano de mandato do novo governo – será baseado somente na inflação de 2010, já que o crescimento do PIB em 2009 ficou abaixo de zero, por conta da crise mundial.
A evolução do salário mínimo
Em oito anos, salário saltou de R$ 200 para R$ 510.
Segundo Dilma, o governo estuda a possibilidade de promover uma espécie de compensação para que o mínimo tenha um reajuste maior. Caso a compensação seja adotada, a economia tenderá a sofrer. Ao menos é o que dizem especialistas ouvidos pelo iG.
Para Celso Grisi, diretor presidente do Instituto de Pesquisas Fractal e professor da Universidade de São Paulo (USP), o anúncio de uma possível antecipação de alta do mínimo pode gerar expectativas inflacionárias. “Este não é o momento desse tipo de anúncio. É hora de falar que a economia não deve mudar, para acalmar os investidores.”
Na avaliação de Grisi, o governo deveria promover a distribuição de renda pelo lado da tributação e não somente do aumento do salário mínimo. “Deveria tributar menos o consumo e a produção, e mais a riqueza e a renda. É hora de dar um tratamento tributário no distributivismo brasileiro.”
Segundo Zeina Latif, economista-sênior do Royal Bank of Scotland para América Latina, promover a compensação do reajuste do salário mínimo pode gerar problemas para o governo em 2012. “Nós não temos uma consistência intertemporal do reajuste do salário mínimo”, diz. “Essa antecipação seria um sinal ruim, porque em 2012 existiriam pressões para um aumento ainda maior”, completa.
Já o professor do Centro de Estudos Sindicais e Economia do Trabalho do Instituto de Economia da Unicamp, Anselmo Santos, defende a compensação no reajuste, “já que o salário mínimo brasileiro está abaixo dos níveis internacionais”. Para ele, o mínimo poderia chegar próximo dos R$ 550 já no início de 2011.
De acordo com Santos, o governo não deve mudar a fórmula atual do cálculo do salário mínimo, já que o modelo é previamente combinado com as centrais sindicais e vem apresentado “bons resultados”. “É a fórmula ideal, porque representa o aumento real do salário mínimo e a relação com o PIB permite reajustes maiores em tempos de crescimento econômico.”
Nos oito anos da chamada “era Lula”, o salário mínimo saltou de R$ 240, em 2003, para os atuais R$ 510. Apesar disso, segundo cálculos do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), levando em conta todos os direitos garantidos pela Constituição, o salário mínimo ideal em setembro deveria ser de R$ 2047,58.
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