Exportações de manufaturados perdem espaço
Jornal Gente FEA - Análise & Opinião - 03/11/2010
Há um consenso razoável, entre os especialistas em comércio internacional, sobre as causas da queda das exportações dos produtos manufaturados. Partilham algumas ideias sobre a primarização de nossas exportações. De um lado, o crescimento dos preços e da procura pelas commodities industriais e agrícolas, mas, de outro, a valorização excessiva do câmbio, que compromete a competitividade da oferta brasileira.
Acresce ainda, o baixo crescimento da economia global, induzindo níveis modestos para a demanda internacional dos industrializados e a forte demanda interna, com preços e margens atraentes ao industrial brasileiro.
Não há nada a estranhar. Com a baixa rentabilidade das vendas ao exterior e o crescimento do consumo interno, as empresas privilegiam o mercado interno e minimizam seu esforço exportador. Olhado em prazo mais longo, esse comportamento das vendas industriais tornou-se tradicional desde os anos 1980. Desde o início de 2010, há uma nítida estagnação nas exportações dos manufaturados nacionais. O primeiro semestre de 2010 mostra um valor superior nas exportações desses bens em relação ao primeiro semestre do ano passado. O valor médio diário das vendas externas dessazonalizado desses produtos está ligeiramente acima dos US$ 300 milhões desde janeiro desse ano.
A evolução do volume exportado mostra um quadro de estagnação, a partir de fevereiro. Os setores cujas vendas apresentaram maiores recuos estão representados pelos de material eletrônico e de comunicações, máquinas, aparelhos e materiais elétricos, vestuário e calçados. Outros elementos têm comprometido a competitividade dos manufaturados nacionais. O custo tributário a que estão sujeitos no Brasil penaliza sua produção, enquanto a infra-estrutura nacional, cujo peso nas exportações brasileiras representa entre 20% e 35% contra menos de 10% nas economias desenvolvidas, compromete a distribuição desses produtos. Por fim, vale lembrar o custo do capital suportado pelo empresariado brasileiro, decorrente da despropositada taxa básica de juros da economia nacional.
Tudo isso explica a perda de dinamismo de nossas exportações e explica o fato de ainda estarem 22% abaixo do nível de setembro de 2008. O volume de vendas de manufaturados tem crescido apenas para os países latino-americanos, especialmente para a Argentina. No primeiro semestre, o volume de alguns produtos manufaturados exportados para os EUA caiu fortemente. As vendas de bens de capital caíram 36,9% em relação ao mesmo período do ano passado, enquanto as exportações de materiais elétricos reduziram 15,3% e as de produtos têxteis, 3,4%. A fraca demanda norte-americana explica em grande parte a queda das exportações de manufaturados. A perda de mercado para outros concorrentes, como os asiáticos, pode explicar praticamente todo o resto.
Professor Celso Cláudio de Hildebrand e Grisi
Professor Tituar do Departamento de Administração da FEA/USP
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