"Trabalhadores do mundo, uni-vos; vós não tendes nada a perder a não ser vossos grilhões"
Em sucessivas postagens, tenho insistido que a única forma de evitar o excesso de oferta de dólares no país seria enviar boa parte deles para o exterior. Só isso poderia evitar a apreciação exacerbada do real.Ao analisar esse problema, gosto de lembrar que, de fato, ainda não chegou ao Brasil dólar nenhum, dos US$ 600 bilhões do novo programa norte-americano de ativação da economia.
Ainda não se emitiu esse dólar, nem muito menos ele chegou ao mercado. Se o dólar está subindo ou descendo no mundo, isso se deve às expectativas futuras dos agentes econômicos. São parte de suas loucuras especulativas, invariavelmente marcadas pela bipolaridade do comportamento desses mercados financeiros.
Tudo acontece porque se espera que aconteça. De verdade, nada aconteceu ainda. Mas, a catástrofe é dada como certa. Em outra postagem futura, quero discutir se os efeitos seriam assim tão cruéis para a economia nacional e para a economia mundial. Por ora, deixo o tema em suspenso, para imaginar como poderíamos nos defender dessa suposta onda de dólares que ameaça afogar o país.
Volto, então, às minhas convicções anteriores para tratar o excesso de moeda estrangeira em nossa economia, insistindo em que o governo deveria estimular duas decisões simultâneas, a partir do estabelecimento de uma nova política industrial. Imagino que o governo devesse eleger alguns setores estratégicos para o desenvolvimento nacional. Digamos que fossem setores como o da indústria petrolífera, a química e a de química fina, a farmacêutica, o setor de agronegócios, com pelos menos alguns de seus sub-setores, alimentação, construção civil, etc.
Dada essa eleição de setores estratégicos, o governo poderia estabelecer um programa incentivado de importações, capaz de modernizar as empresas desses setores, bem como induzir aquisições de tecnologias de pontas e a adoção de metodologias de produção e comercialização altamente competitivas. A aquisição desses elementos requereria os pagamentos correspondentes a seus fornecedores, no exterior. Esses pagamentos fariam regressar, para as economias estrangeiras, os excessos de dólares da economia nacional.
Por outro lado, tenho insistido na alternativa de aquisições de fábricas, marcas ou de compra do controle acionário de empresas de distribuição nos países avançados. Trata-se de medida complementar, mas de grande relevância em momentos de crise nos países desenvolvidos.
Esses ativos estão desvalorizados, propiciando compras bastante atraentes, em termos de preço, ao investidor nacional. Veja-se, por exemplo, o caso da laranja. Somos o maior exportador mundial de sucos concentrados, mas não temos marcas posicionadas no mercado internacional, nem processamento desse concentrado e muito menos dominamos a distribuição de nossos produtos em territórios desenvolvidos. Por isso sempre vendemos commodities de baixo valor agregado, renunciando a ganhos substanciais. Não transformarmos e não distribuirmos nossos produtos e não promovemos nossas marcas nesses mercados. Daí, as indústrias de laranja, por exemplo, pagarem tão mal nossos produtores rurais.
Que tal o BNDES, o BB e a Caixa financiarem essas aquisições, em dólares? Enviaríamos uma quantidade adicional de dólares ao exterior e agregaríamos valor às exportações brasileiras.
Exportando produtos de maior fator agregado, conseguimos criar empregos melhor remunerados e, dentro do preço do produto nacional, o consumidor estrangeiro arcaria com os bons salários pagos ao trabalhador e ao citricultor nacional.
É inconcebível admitir que ao vendermos produtos básicos, e importarmos os manufaturados, o consumidor brasileiro é quem paga os melhores salários ao trabalhador estrangeiro.
Exceto para os que crêem no slogan do manifesto comunista da falida URSS, essa lógica faria sentido. Claramente poderia evitar a apreciação do real.
Que tal admitirmos essa hipótese de política industrial, pelo menos como uma hipótese, para fins de verificação empírica?
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