"Guerra cambial" força países a tomarem medidas unilaterais
Veículo: Folha de São Paulo - Data: 11/11/2010GRAZIELLE SCHNEIDER
A reunião do G20 começa nesta semana com uma grande preocupação atormentando os líderes dos países participantes: a guerra cambial. A expressão surgiu para descrever a suposta disputa entre os países envolvendo suas moedas, já que há a desconfiança de que alguns deles estejam forçando a desvalorização de suas moedas para tornar seus produtos mais competitivos no exterior. A lição da crise é que papel do Estado tem de mudar e que regulação financeira é essencial.
Manipulação das moedas para ganhar competitividade será um dos temas do G20
"Países desenvolvidos, e também emergentes, entenderam que a vertente mais fácil para o crescimento [e recuperação da crise econômica iniciada em 2008] seria a exportação. Para isso, usaram uma estratégia: a desvalorização das moedas locais. Assim, os preços em dólares ficariam muito mais convidativos para o importador"', explica Celso Grisi, economista da FIA (Fundação Instituto de Administração) e da USP (Universidade de São Paulo).
O principal foco das críticas é a China, que impede, há pelo menos dez anos, a
valorização da sua moeda, o yuan, para favorecer suas exportações.
DÓLAR EM QUEDA
De outro lado, o governo norte-americano vem despejando dólares na sua economia para estimulá-la. Com isso, o dólar vem perdendo valor diante de várias moedas.
"Para o Brasil, que tinha, como alguns outros países, fundamentos econômicos muito sólidos, o que ocorreu foi uma atração do capital estrangeiro para dentro do país, criando uma oferta de dólares muito grande e apreciando a nossa moeda", explica Grisi. Ele destaca que, por isso, os preços de nossos produtos ficaram pouco competitivos lá fora, comprometendo a indústria local. Além disso, o aumento da entrada de dólares resultou em alta do deficit externo do país. Para piorar, o Fed (banco central americano) anunciou na última semana nova tentativa de impulsionar a economia americana: a compra de US$ 600 bilhões em títulos do Tesouro, o que ficou conhecido como afrouxamento quantitativo (QE2).
"Uma injeção dessas implica atolar o mundo em dólares, que vai ter uma desvalorização imensa, favorecendo as exportações americanas e, portanto, trazendo um saldo conveniente para os EUA. Em contrapartida, todas as outras moedas do mundo se apreciarão", destaca Grisi.
MEDIDAS
Todo esse imbróglio está fazendo com que os países adotem medidas unilaterais para conter a valorização de suas moedas.
O governo brasileiro, por exemplo, elevou em outubro a alíquota do IOF(Imposto sobre Operações Financeiras) de investimentos estrangeiros nas aplicações de renda fixa de 4% para 6% --apenas duas semanas após elevar a alíquota de 2% para 4% -- e promoveu intervenções do Banco Central para a compra de dólares.
A Tailândia também adotou imposto para aplicações de estrangeiros em renda
fixa. No país, o estrangeiro pagará 15% no ganho com títulos da dívida pública e de empresas, que rendem mais de 8% ao ano, estimulando operações de 'carry trade', em que o estrangeiro empresta recursos nos EUA e Japão com taxas máximas de 1,5%.
Na Ásia, Indonésia, Coreia do Sul e Taiwan tomaram medidas semelhantes para segurar suas moedas. A Indonésia instituiu, em outubro, uma 'quarentena' de um mês para o dinheiro ficar no país. Taiwan preferiu fechar acesso do não residente a depósitos de curto prazo.
Mais liberal, a Coreia do Sul limitou a exposição dos bancos a derivativos cambiais, reduzindo o poder de fogo para especulação em favor do won. O próprio Japão rasgou a cartilha liberal e interveio pela primeira vez em quase sete anos para impedir a alta do iene, que mina a competitividade da indústria japonesa.
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