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domingo, 21 de novembro de 2010


Domingo, 21 de Novembro de 2010  -  Juliana Santos / Agência Leia
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CHINA:Medidas para conter inflação causarão impacto
no preço de commodities
São Paulo, 19 de novembro de 2010 - Com uma inflação de 4,4% em outubro pela taxa anual, o maior nível em 25 meses, o governo chinês anunciou essa semana que irá adotar medidas controlar a subida de preços no país. Na opinião dos analistas ouvidos pela Agência Leia, as diretrizes podem causar impacto direto com os principais mercados exportadores de commodities para a China, inclusive o Brasil.
Hoje, o Banco do Povo da China (PBC, sigla em inglês), o banco central do país, informou que aumentou a taxa de depósitos requerida para instituições financeiras (compulsórios) em 0,5 ponto percentual. Logo após o anúncio, o Centro de Informações do Estado (SIC, sigla em inglês) divulgou que a projeção para o índice de preços ao consumidor (CPI,
sigla em inglês), o principal indicador de inflação na China, prevê alta de 3,8% no quarto trimestre. No acumulado do ano, a expectativa é que ele varie positivamente em 3%. Esta taxa, de acordo com o órgão, já estaria "dentro da tolerância da sociedade".
O SIC anunciou também que o ritmo de crescimento da economia chinesa deverá desacelerar no quarto trimestre para 8,7%, por conta das reestruturações econômicas. A previsão ficou quase 1% abaixo da variação de 9,6% apresentada pela no terceiro trimestre. Para o acumulado do ano, o órgão espera que o país cresça 10%, enquanto que nos três primeiros trimestres a China expandiu 10,6%.Para o economista Celso Grisi, presidente do instituto de pesquisa de mercado Fractal e professor da Universidade de São Paulo (USP) e da Fundação Instituto de Administração (FIA), a China, como maior importadora de commodities do mundo, ao limitar sua demanda, influencia negativamente o mercado de commodities incluindo o petróleo, o setor de siderurgia, metalurgia e, em menor escala, o setor de alimentos. "A China tem que importar uma grande quantidade para evitar o desabastecimento. A demanda está forte e os preços começaram a subir, gerando uma perda do controle, e a inflação começou a fugir da meta estabelecida", disse. "O Brasil sentirá os efeitos destas medidas, pois está deixando que sua pauta exportadora seja dominada pelas commodities. "Quando a China desacelera, e os preços vêm para baixo, mexe profundamente com as exportações brasileiras", acrescentou. "Conforme a China vai tomando medidas de aumento de taxa de juros, vai gerando um efeito negativo para o mercado de matérias-primas. A China é um dos países que mais importa commodities, principalmente do Brasil, e se o país asiático toma essa decisão, automaticamente reduz a atividade interna, e gera um decréscimo dessas compras", afirma o professor de finanças da BSP (Business School São Paulo), Daniel Miraglia. Miraglia lembra que a taxa de câmbio da China, em regime flutuação controlada, dentro de uma banda administrada pelo banco central, tem acarretado uma reserva enorme, de quase US$ 3 trilhões, acúmulo que normalmente gera pressão inflacionaria.
"No caso da China, tem sido possível controlar essa pressão porque tem uma taxa de poupança e de investimento altas, e isso se deve, em grande parte, às grandes empresas estatais e à mão-de-obra barata. Além disso, o governo da China tem uma dívida pública baixa, de 15% em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), que no início do processo de acumulo de reserva era de 7% e subiu para 15%, e esse padrão vai se alterando para uma economia que tenha uma divida de 30% em relação ao PIB, ou seja, a pressão inflacionária vai aumentando, e alguma já está ocorrendo, mas 4,4% ainda não é grande", avalia.
De acordo com o economista da Way Investimentos e diretor do curso de Relações Internacionais da ESPM-RJ, Alexandre Espírito Santo, essas medidas terão uma dimensão enorme, uma vez que a China assumiu o papel de locomotiva do crescimento mundial. "Quando o mundo percebe que vai haver um freio no consumo chinês, isso causa um choque em todos os mercados. O Brasil pode ter perda nos preços de commodities, uma vez que exportação brasileira para lá é muito forte. O controle da inflação vai afetar principalmente os países emergentes que comercializam com a China", afirma. Mesmo com as medidas para a inflação, será muito difícil o governo modificar o câmbio, de acordo com Espírito Santo. "Ainda que haja uma mudança na taxa de juros, uma mudança no câmbio chinês dependeria de uma decisão de mudar toda a estrutura macroeconômica deles, o que não vai acontecer agora".
Na opinião do professor de mestrado em gestão internacional da ESPM-SP e sócio da Pezco, Frederico Araújo Turolla, o anúncio das medidas de controle de preços está um pouco atrasada, e o que está acontecendo é um desdobramento de um plano antigo. "O mercado reagiu em cima de um fato, mas isso está previsto há mais tempo. "Existem agora duas dúvidas: se a medida de inflação é acurada, e qual é a força dessa trajetória - que parece ser muito forte".
O professor das Faculdades Integradas Rio Branco, Alexandre Uehara, compartilha a opinião de que as medidas adotadas já faziam parte de um planejamento anterior. "O governo chinês está preocupado com uma bolha econômica e essas medidas visam diminuir pressões, porque como existe um grande fluxo de capital para aquele país, essa liquidez fez a economia inflar, o que vem acontecendo nos últimos anos", disse. "As medidas para conter a inflação podem aumentar o deposito compulsório, os bancos vão tirar um pouco do dinheiro para o crédito, haverá menos dinheiro circulando, e crédito pode ficar mais caro", completou. Para a consultoria norte-americana Capital Economics, uma cota de restrição de crédito deve acontecer em 2011, algo como 6,5 trilhões de ienes (US$ 978 bilhões), comparado com o 7,5 trilhões de ienes este ano, conforme o governo se esforça para garantir que a inflação não se estenda além do setor de alimentos. "A inflação ainda está em um longo caminho abaixo do nível alcançado no início de 2008. Esta experiência sublinha que os picos nos preços dos alimentos pode levar vários meses para fazer esta trajetória. Mas enquanto o núcleo (que exclui preços de energia e alimentos) permanece baixo, a inflação deve cair, em vez que ficar fora de controle", conclui.

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