Crédito, consumo e crescimento
A
curva ascendente da inflação durante um período relativamente longo desse ano,
com um pico no terceiro trimestre, destruiu boa parte da capacidade de compra
dos consumidores e, portanto, das famílias. O resultado mais evidente pode ser
encontrado na redução do nível de atividade do varejo em outubro e novembro. A inflação
chegou a afastar-se muito do centro da meta, tendo alcançado em certo momento
7,3% ao ano e provocando justificadas inquietudes ao setor privado da economia,
particularmente aos investidores internacionais. O governo viu-se forçado a
tomar medidas mais fortes para a contenção do ritmo de alta dos preços.
De
forma gradualista, o governo venceu a inflação. Tudo aconteceu lentamente, deixando
no rastro de suas medidas, os orçamentos das famílias comprimidos. O consumidor,
receoso, recuou. Assumiu estratégia claramente defensiva, mesmo diante da
perspectiva de um imprudente aumento de salário mínimo, projetado em 14,7%. Isso,
somado à queda recente da inflação, sugere a muitos que as famílias voltem ao
consumo e, oxalá, assim o seja.
Não
creio nisso. Vejo o consumidor endividado. O Relatório sobre o Crédito,
publicado pelo Banco central, aponta para
a intensificação do uso de cartões de crédito e cheques especiais, as modalidades
de empréstimos com os mais altos custos, em função das taxas cobradas. Isso
produziu novas e maiores pressões sobre o
do serviço da dívida do tomador. A inadimplência, provavelmente por essa
razão, tenha alcançado 7,3% entre as pessoas físicas.
Tudo parece reforçado pelos
números do Relatório
Bacen que indica
uma redução nos volumes dessas duas modalidades de crédito e sua substituição
pelo crédito pessoal, cujo volume aumentou, revelando uma busca deliberada do
consumidor pela redução de seus encargos, no esforço de recuperar o poder de
compra de seus rendimentos.
O
mês de dezembro, tradicionalmente eufórico, não terá o desempenho de anos
anteriores. O varejo já está acusando o golpe com as mais recentes projeções. O
Natal será apenas bom, mas não excelente, talvez se aproxime, em termos reais,
dos resultados do ano anterior, confirmando a tese da cautela defensiva nos
gastos das famílias.
Os
dados de novembro do Caged, sobre criação de postos de trabalhos formais, dão
apoio às decisões do consumidor.
Se
esse entendimento estiver certo, o PIB do primeiro trimestre de 2012 deve crescer
modestamente, confirmando que a desaceleração que estamos assistindo é um
fenômeno decorrente do vigor das medidas governamentais e de seu gradualismo,
talvez, excessivos.
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