Já desenvolvemos efeitos colaterais.
A resistência está
instalada.
O erro foi na dosagem. Ao introduzir antibióticos em
pacientes com infecções bacterianas, as maiores preocupações referem-se à
dosagem correta e ao tempo de administração da droga. Dosagens inferiores criam
resistência. Administração por tempo longo, também. Além de outros efeitos adversos.
Taxas de juros apresentam comportamentos semelhantes.
Talvez esse seja o maior problema com o gradualismo econômico.
Recuperamos, graças a todos os esforços envidados,
nossa posição de liderança no ranking dos juros mundial. Estamos no lugar mais
alto do pódio, com o prestígio, agora, recuperado junto à comunidade dos
especuladores globais.
Como chegamos a isso, mantendo um elevado crescimento
econômico, intolerável defasagem cambial, perigosa expansão creditícia, ganhos
reais de renda e pleno emprego?
Taxas de juros não podem ser sub-administradas, nem
muito menos, durante tempo muito longo. Os agentes econômicos não entendem o
recado. Precificam esses pequenos aumentos e geram resistências à queda do
crédito e do consumo.
O consumidor reduz seus parcelamentos de faturas nos
cartões e aumentam o parcelamento de suas compras. Correm para o consignado.
Vendem seus carros para consumir e financiam outro novo para continuarem
motorizados. Empresas encurtam seus prazos de venda e ampliam, a taxas de CDB´s,
seus pagamentos. A desintermediação financeira cresce, concorrendo com os
canais tradicionais de distribuição do crédito. Essa concorrência impede as
taxas reais de acompanhem a Selic.
Juros, nesse patamar, trazem capitais estrangeiros e
fazem proliferar as factorings. O
câmbio agrava a competitividade de todo o sistema econômico e mascara a
dinâmica dos preços. Os ganhos reais nos rendimentos somam-se ao crédito e
pressionam a demanda que, por sua vez pressionam a inflação. Tudo corre em
descaso à Selic.
A discussão permanece em torno da forma de uma eventual
desaceleração. Vamos em forma de U ou de V? Já se falou em L. A economia vira
uma sopa de letras, nas mãos tímidas dos gradualistas.
A intervenção agora pede uma nova geração de drogas
econômicas. Mais severas, para tratar a excessiva e crescente liquidez atual. O
influxo de capitais externos ampliará a liquidez presente.
Como enxugar esse mercado? O receituário terá que ser
mais cruel e administrado em dose única. Acordos de trabalho não podem superar
a produtividade do sistema econômico. O aumento de arrecadação que melhorou as
contas públicas não isentam a redução das despesas do governo, sobretudo àquelas
referentes a pessoal. O contingenciamento
do crédito precisa alcançar definitivamente todos os canais que o distribui. O
capital especulativo precisa ser regulamentado em novas bases. A importação
deve seguir o caminho da atualização tecnológica e do aprimoramento produtivo.
Dólar baixo já não pode ser utilizado com ferramenta de combate à inflação.
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