Setor bancário nacional deve superar
crises internacionais
Veículo:
DCI -
Data: 20/07 - Marcelle Gutierrez
Para especialistas, instituições estão consolidadas
e focadas no mercado interno. Mesmo o Santander pode continuar com bons
resultados aqui
São Paulo
Diante dos temores gerados pela crise bancária na
Europa e das discussões no Congresso norte-americano sobre o limite de
endividamento dos Estados Unidos, o atual cenário da economia global é de
incerteza e receio de uma nova crise sistêmica, o que pode impactar os negócios
de todo o sistema financeiro. Contudo, as instituições financeiras brasileiras
devem repetir o bom desempenho de 2008 e 2009 e manter a saúde financeira,
permanecendo distantes do risco de colapso de liquidez, apontaram analistas
econômicos entrevistados pelo DCI.
Segundo Celso Grisi, economista pela FEA-USP e
diretor presidente do Instituto de Pesquisa Fractal, os bancos brasileiros são
fortes e pouco dependentes destes países. “O Brasil não é credor do sistema
financeiro americano e europeu. O risco pode vir do ponto de vista econômico
com caos mundial, que pode ter reflexo por aqui”, diz Grisi, que complementa.
“O governo federal é o grande credor de treasuries [títulos do Tesouro
norte-americano], mas não haverá contágio.”
O baixo investimento dos bancos brasileiros em
títulos no exterior e foco no mercado interno também são apontados pelo
especialista como fatores que impedem riscos de contágio. “Ainda é baixo o
investimento em ativos e dívidas soberanas, principalmente porque recebemos um
alerta em 2008.”
O Itaú Unibanco exemplifica no balanço consolidado
de 2010 essa tendência, com aumento de 102,9% em investimentos em títulos
públicos no Brasil, de R$ 43,8 bilhões em 2009 para R$ 89 bilhões em 2010. No
segmento de títulos e valores mobiliários é possível observar a queda em papéis
externos, principalmente na Europa. Na Espanha, os investimentos caíram 32,8%,
de R$ 1,093 bilhões em dezembro de 2009 para R$ 734 milhões no último mês de
2010. No entanto, a aquisição de títulos públicos nos Estados Unidos apresentou
forte expansão no período, de 1126,7%, de R$ 766 milhões em dezembro de 2009
para R$ 9,394 bilhões em 2010.
O Itaú ainda possui operações em Portugal, Londres,
Luxemburgo, Suíça e Estados Unidos. Mas, segundo Grisi, a crise não deverá
ocasionar impactos, pois o foco dos negócios está nos moradores e nas empresas
brasileiras presentes nestes países.
Outra instituição em processo de
internacionalização é o Banco do Brasil. Sobre a compra do Eurobank, na Flórida
(EUA), o analista de bancos da agência classificadora de risco Austin Rating,
Luiz Miguel Santacréu, diz que os negócios no Brasil não serão atingidos, já
que o BB realizou a compra também para captar negócios de brasileiros.
Ao serem procurados, Itaú e Banco do Brasil
informaram, por meio da assessoria de imprensa, que verificariam a
possibilidade de entrevista por estarem em “quiet period”. Mas ambos não
retornaram até o fechamento desta edição.
Santacreu também concorda que o contágio deve vir
em menor escala em investimentos, mas que há a necessidade de um detalhamento
das carteiras, principalmente em bancos portugueses com dívida. “As
instituições com títulos públicos devem ficar com um pé atrás, mas têm de
analisar o contexto e medidas dos governos. Os países europeus estão em
situação difícil, mas pode vir um socorro de estados fortes, como Alemanha e
França.”
No que se refere à crise em Portugal e os impactos
em um dos principais bancos do país vizinho, o Santander, o analista da Austin
não acredita em reflexos no Santander Brasil, já que realiza captações no
mercado interno. “Há filiais que ajudam a matriz. No caso do Santander, a
contribuição é evidente, principalmente porque os maiores problemas estão no
crédito imobiliário e em títulos da dívida do governo na Espanha”. No primeiro
trimestre de 2011, o lucro líquido do Santander Brasil alcançou R$ 2,1 bilhões
no critério International Financial Reporting Standards (IFRS), o que
representa crescimento de 17,5% em comparação com o mesmo período do ano
anterior. Com este valor, o Brasil lidera a participação mundial, com 25% do
lucro total do grupo.
Em nota, o banco respondeu que “a estrutura do
Grupo Santander é composta por filiais independentes. Dessa forma, a exposição
do Santander Brasil à crise portuguesa é nula.”
Para Santacreu, o contágio da crise econômica na
Europa e nos EUA ocorre na oferta de crédito. “Nosso sistema bancário é mais
passivo, isto é, recebe mais do que fornece recursos. O efeito no Brasil é que
os bancos europeus diminuem as atividades de crédito, com queda na capacidade
de empréstimos. Sendo assim, o mercado internacional fica mais difícil e as
instituições terão que se virar no mercado interno.”
Já Celso Grisi argumenta que o sistema nacional
pode ser beneficiado em captações por conta da consolidação dos bancos
nacionais, economia em crescimento, bom risco país e renda dos brasileiros em
ascensão. “O reduto da economia mundial está nos países emergentes.”
Ao ser questionado sobre o desempenho do HSBC,
instituição com atuação no Brasil, Grisi aponta o banco como sólido, com
credibilidade mundial e alto poder de captação de recursos.
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