Poeira nos olhos não. Vamos aos fatos.
O dólar fechou ontem cotado em R$ 1,565. Alta de 0,71%. Foram seis sessões em queda. Há razões para isso?Sim, entre elas a maior refere-se à deterioração do ambiente internacional de negócios. Na 2ª feira, a Standard & Poor’s falou em “default seletivo” para classificar a dívida grega. No dia de ontem entrou em cena outra agência de risco: a Moody’s. Anunciou sua redução para a avaliação para dos títulos de longo prazo do governo português. Derrubou o rating de Portugal de Baa1 para BA2, anotando seu viés negativo para esses títulos. A notícia não poderia chegar em momento tão impróprio para o mercado de ações. O dólar como se sabe, nesses momentos vira um refúgio seguro e os investimentos tendem a sair do país. Absurdo? Sem dúvida, mas é assim que os investidores pensam e ponto final.
Também é verdade que o Banco Central esteve ativo na ponta das compras e ajudou a recuperação do dólar. A apreciação do real incomoda muito ao ministro Mantega que tem manifestado, sempre que pode, sua intenção de produzir medidas, sobretudo em relação ao mercado de derivativos. Incomoda também o presidente do Banco Central que conhece bem o custo para o Brasil da manutenção de nossas reservas em moeda estrangeira. Fosse pelo desejo dessas duas autoridades, as medidas já estariam implementadas. Mas gradualismo é gradualismo, até para o dólar.
Contribuindo com o ambiente internacional em deterioração, o indicador de pedidos às indústrias, calculado pelo Departamento de Comércio dos Estados Unidos, ficou em 0,8%, aquém das estimativas dos analistas que esperavam 1%. Em seguida, entra em cena a notícia sobre a disposição do presidente Barak Obama em reunir-se com Os líderes do Congresso norte-americano para conseguir a ampliação do limite da dívida norte-americana. A apreensão aumentou. As dificuldades a serem enfrentadas pelo presidente Obama não são pequenas. Precisa fazer cortes de gastos e aumentar impostos. São medidas impopulares que congressistas não gostam de avalizar.
Para piorar, a Moody’s já avisou que se o acordo não for alcançado, aumentando o limite de endividamento do estado norte-americano, revisará o rating do país. O Ibovespa fechou com perda de 1,33 %, voltando aos quase redondos 63.000 pontos.
Os preços do petróleo, no mercado futuro subiram em Londres e em Nova York. O Brent, referência para Europa, fechou a US$ 113,54, com alta de 1,88%. O WTI negociado em Nova York, com vencimento em agosto, fechou cotado a US$ 96,89 por barril, com alta de 2,05%.
Analistas tentam explicar essa alta em função de especuladores acreditam na retomada do ritmo de recuperação dos Estados Unidos e na redução, apenas moderada, do crescimento da economia da China. Até pode ser. Mas, então, por que correram para o dólar? Se a percepção de risco havia crescido, não era momento de entrar em petróleo, até porque o petróleo é cotado em dólar e o dólar havia subido, encarecendo o produto e aumentando o seu risco. De fato, não foi isso. O movimento dos preços dessa commodity é mesmo de outra natureza. O esforço altista pode estar relacionado aos cartéis e não merecem explicações típicas de mercados concorrenciais.
De registrar, ainda que o indicador de risco-País subiu mais seis pontos-base na sessão de ontem, atingindo 151 pontos. O clima é mesmo de incertezas econômicas crescentes e os emergentes são os primeiros a acusar o golpe.
Economia chinesa crescendo mais devagar, limite do endividamento dos Estados Unidos em discussão e dívidas européias em deterioração, acompanhadas por sucessivas crises fiscais. Precisa mais?
No frigir dos ovos, o Brasil está se saindo muito bem:o Global 40 fecho a sessão de ontem em alta de 0,26%, cotado a 136,26 centavos de dólar. É de comemorar e muito. Ainda mais que os preços dos treasuries também subiram.
A alta do dólar é lógica e que os Treasuries tenham subido junto também é lógico. Mas se o risco-País do Brasil aumentou. Por que então, o Global 40 haveria de subir. Teria que ter caído para seguir a mesma lógica.
Na verdade, subiu por que quem diz o que sobe e o que desce é o mercado e não os cálculos de um único agente.
O dia não foi fácil de ser entendido ou explicado. É preciso analisar o analista ou, como dizia Carlos Lacerda, “é preciso analisar a psicanálise”.
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