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domingo, 31 de julho de 2011

Endividamento norte-americano e seus reflexos no Brasil

Como a crise da dívida dos EUA
pode afetar o seu bolso?
Notícias
Veículo: Portal Infomoney
Data: 29 de julho de 2011 • 18h12
Jornalista: Diego Lazzaris Borges
SÃO PAULO – O risco de calote dos Estados Unidos tem deixado muitos analistas financeiros ao redor do globo preocupados. Aqui no Brasil, a intranquilidade também é grande, já que o não pagamento da dívida norte-americana pode afetar a economia nacional e, consequentemente, o seu bolso.
De acordo com o diretor presidente do Instituto de Pesquisa Fractal, Celso Grisi, diferente da crise fiscal europeia, o Brasil pode ser duramente afetado em caso de default nos Estados Unidos. Isto porque, grande parte das reservas internacionais brasileiras estão aplicadas em títulos do governo norte-americano.
“As nossas posições ativas em moedas europeias e em dívidas soberanas de países do euro eram praticamente nulas. Por isso, não se esperava um impacto negativo no sistema financeiro brasileiro a partir de uma crise europeia”, afirma.
Já com os Estados Unidos, o quadro é bem diferente. “Se acontecer um default, o Brasil perde condições de resistência à crise internacional. A nossa redução de vulnerabilidade foi alcançada por meio da construção de uma reserva de mais de US$ 300 bilhões e que está muito posicionada nestes papéis norte-americanos”, afirma o economista.
Risco de inflação e desemprego
Com um calote nos Estados Unidos, o economista ressalta que poderá haver uma alta nos preços das commodities e, consequentemente, um avanço da inflação. “Commodities industriais, metálicas e não metálicas, agrícolas, todas podem subir de preço. Vamos ter repercussão no ouro, na prata, platina, cobre e zinco. Tudo isto acaba trazendo uma pressão inflacionária de grandes proporções na economia brasileira” afirma Grisi.
Os preços mais caros também podem fazer com que a economia cresça menos e a oferta de emprego seja menor. “Com menos emprego, os ganhos reais de renda que vinham acontecendo nestes últimos anos tendem a ter uma redução considerável”, acredita.
Como consequência, o Governo poderá ter de adotar novamente políticas de aperto monetário para tentar controlar o avanço dos preços e subir as taxas de juros, ocasionando o encarecimento do crédito e provocando maior inadimplência. “Teremos uma redução no ganho real, redução do consumo e agravamento da inadimplência”, acredita o professor.
Redução das exportações
O professor de relações internacionais do Ibmec, Creomar de Souza, ressalta que um calote da dívida dos Estados Unidos também poderia prejudicar as empresas que exportam para aquele país.
“Uma moratória do governo norteamericano pode fazer com que a importação de produtos para aquele país seja reduzida. Essa retração pode afetar o faturamento das empresas exportadoras aqui no Brasil e inclusive gerar desemprego”, afirma.
Investimentos
Para a professora da FGV (Fundação Getulio Vargas), Myrian Lund, uma pressão inflacionária por conta da crise é pouco provável. Segundo ela, o brasileiro pode ser mais afetado em relação aos investimentos, especialmente em renda variável.
“A bolsa não depende apenas do desempenho das empresas, mas também de toda a conjuntura internacional. Este problema nos Estados Unidos gera incertezas muito fortes e, nestes momentos, há uma tendência dos investidores procurarem por investimentos mais seguros, o que pode fazer com que a bolsa caia ainda mais”, afirma.
Já em relação aos investimentos de renda fixa, ela não acredita que haja nenhum tipo de alteração. “Tanto os títulos do Governo brasileiro (Tesouro Direto) quanto os fundos de renda fixa continuam sendo boas aplicações neste momento”, afirma Myrian.
Entenda a crise
O Congresso norte-americano tem até a próxima terça-feira (2) para ampliar o limite da dívida pública do País, que já chegou ao teto máximo (US$ 14,3 trilhões). Se este aumento não for aprovado, o país pode ficar sem dinheiro para pagar as suas dívidas e daí o risco do calote.
O maior problema é que o congresso está dividido. Os republicanos (partido de oposição ao governo), que são maioria na Câmara dos Representantes (conhecida como Câmara Baixa), rejeitam a proposta dos democratas de aumentar os impostos para os mais ricos como forma de obter recursos.
“Os republicanos querem fazer o acerto através de cortes em programas sociais”, explica Celso Grisi.
O que são os títulos da dívida?
Para conseguir recursos e financiar as atividades do governo federal, o Tesouro dos Estados Unidos emite títulos públicos (conhecidos como Treasuries) no mercado financeiro. Ou seja, a venda destes papéis funciona como um empréstimo para o Governo norte-americano e os “credores” ou investidores são remunerados com o pagamento de juros.
“Os principais interessados nestes títulos são outros governos e grandes investidores”, afirma o professor do Ibmec.
Ele lembra que estes títulos sempre foram considerados os mais seguros do mundo. “Pelo menos até o dia 2 de agosto, eles continuam assim ”, afirma Souza.

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