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domingo, 10 de junho de 2012

Obsseção econômica

Margens e spreads bancários
A estratégia de crescimento do governo, inspirada na ampliação do consumo, desembocará em “beco sem saída”. Endividamento excessivo das famílias, redução dos investimentos externos diretos com seus impactos no mercado de trabalho, redução na confiança de empresários e consumidores e inadimplência elevada conspiram contra as intenções governamentais.
Esse quadro induzirá uma taxa de referência Selic ainda baixa, até que a obsessão e a teimosia deem lugar à razão.
Inútil será recorrer ao retrovisor. 2012 não reproduzirá 2008, pois as condições da economia nacional e internacional são outras. Também os bancos devem evitar olhar para o passado. Suas margens estão preservadas de colapsos, apenas no curto prazo. Todas suas carteiras serão reprecificadas, em prazo não superior a três meses. A queda em seus custos de captação não dará conta da preservação de seus spreads. Seus lucros vão se ressentir da queda dos juros e a redução dos custos de captação funcionará, de forma muito discreta, como um alívio marginal para a pressão sobre os spreads.
O governo crê que baratear o crédito ao consumidor, especialmente para a classe média emergente, levará ao aumento do consumo e à expansão do nível de atividade econômica. Por isso promove de forma obsessiva a queda nas taxas de juros. Seu argumento é que os spreads são muito altos no país, quando comparado a outras economias do mundo e que impõem o grande obstáculo para o crescimento nacional.
Verdade seja dita, os spreads são altos e nesse particular o governo está correto. Mas obrigar os bancos a baixá-los não será a solução, em mercado cujo grau de concentração já chegou ao limite do tolerável.
Melhor será desconcentrá-lo, dando maiores oportunidades para o crescimento da concorrência. Mercados concorrenciais incumbem-se, por si só, de baixar juros e spreads. Existem formas para aumentar a concorrência no sistema bancário do país. Que tal atrairmos novos entrantes? Há bancos asiáticos que gostariam de frequentar o ambiente de negócios do país, bastando para isso reduzir as barreiras burocráticas e regulatórias, criadas pelo Banco Central. Outra forma seria incentivar a fusão de bancos pequenos e médios para criar entidades com maior corpo e escala. Esses grupos atuariam de forma bem sucedida em segmentos específicos, onde suas habilidades são valorizadas pelo consumidor. A criação de bancos regionais, no modelo norte-americano ou europeu pode também estimular a competição no setor.
Mais eficiente que obrigar o oligopólio criado a baixar suas margens, seria criar condições institucionais condizentes com a entrada de novos investidores no setor. Bancos estrangeiros assustam-se com a possibilidade de não alcançar as escala de operação necessárias no Brasil ao assistirem os níveis de depósitos compulsórios praticados por aqui. Alarmam-se com uma inadimplência no crédito tão elevada.
O depósito compulsório representa alguma coisa como 35% dos depósitos no sistema bancário brasileiro, enquanto na China comunista, esses depósitos não ultrapassam os 20% do sistema local. A classificação de riscos para concessão de empréstimos recentemente evoluiu muito, mas o cadastro positivo só agora começa a ser construído.
Para os novos entrantes, medidas como essa reduzem riscos e permitem antever possibilidades de crescimentos e de remunerações dos capitais investidos. Previsibilidade é o nome do jogo. Improvisos causam incertezas.
De fato, as bolhas na área de crédito são criações fantasiosas, nascidas das preocupações com a morosidade da implantação do conjunto de reformas que o setor pede e necessita.
Causa estranheza observar tanta disposição do governo em se opor aos agentes econômicos. Só nesse ano, o governo já se engalfinhou, e de forma autoritária, com produtores rurais, mineradoras, sistema financeiro e indústria automobilística. Por que algum banco internacional estaria disposto a entrar em um país que se debate contra os que investem, produzem, empregam e recolhem impostos? Os capitais estrangeiros, tributados por novas regras, estão em fuga maciça do país e a culpa é lançada exclusivamente sobre a combalida Europa.
A expectativa de uma retomada do crescimento no segundo semestre, esquece, entretanto, que as medidas econômicas, tomadas para induzir um nível maior de crescimento, não produziram os efeitos anunciados. Os bancos, com lucros em queda, e a indústria automobilística, com seus grandes estoques, podem puxar o cordão das demissões, em pleno ambiente de desvalorização do Real.
Algumas empresas já apresentam grandes exposições a moedas estrangeiras, principalmente em dólares. Muitas captaram recursos internacionais, sob as formas possíveis. O descompasso entre ativos e passivos pode exigir novos vetores de correção que, invariavelmente, levam a demissões.
A maior parte dos passivos em moeda estrangeira está em forma de empréstimos, títulos emitidos e valores mobiliários.
Sem avanços institucionais, sem reconciliação com agentes econômicos locais e internacionais e sem investimentos governamentais vai ficar difícil nesse semestre.

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