Margens e spreads bancários
A estratégia de crescimento do governo,
inspirada na ampliação do consumo, desembocará em “beco sem saída”. Endividamento
excessivo das famílias, redução dos investimentos externos diretos com seus
impactos no mercado de trabalho, redução na confiança de empresários e
consumidores e inadimplência elevada conspiram contra as intenções
governamentais.Esse quadro induzirá uma taxa de referência Selic ainda baixa, até que a obsessão e a teimosia deem lugar à razão.
Inútil será recorrer ao retrovisor.
2012 não reproduzirá 2008, pois as condições da economia nacional e
internacional são outras. Também os bancos devem evitar olhar para o passado.
Suas margens estão preservadas de colapsos, apenas no curto prazo. Todas suas
carteiras serão reprecificadas, em prazo não superior a três meses. A queda em
seus custos de captação não dará conta da preservação de seus spreads. Seus lucros vão se ressentir
da queda dos juros e a redução dos custos de captação funcionará, de forma
muito discreta, como um alívio marginal para a pressão sobre os spreads.
O governo crê que baratear o crédito ao
consumidor, especialmente para a classe média emergente, levará ao aumento do
consumo e à expansão do nível de atividade econômica. Por isso promove de forma
obsessiva a queda nas taxas de juros. Seu argumento é que os spreads são muito altos no país, quando
comparado a outras economias do mundo e que impõem o grande obstáculo para o crescimento
nacional.
Verdade seja dita, os spreads são altos e nesse particular o
governo está correto. Mas obrigar os bancos a baixá-los não será a solução, em
mercado cujo grau de concentração já chegou ao limite do tolerável.
Melhor será desconcentrá-lo, dando
maiores oportunidades para o crescimento da concorrência. Mercados
concorrenciais incumbem-se, por si só, de baixar juros e spreads. Existem formas para aumentar a concorrência no sistema
bancário do país. Que tal atrairmos novos entrantes? Há bancos asiáticos que
gostariam de frequentar o ambiente de negócios do país, bastando para isso
reduzir as barreiras burocráticas e regulatórias, criadas pelo Banco Central.
Outra forma seria incentivar a fusão de bancos pequenos e médios para criar
entidades com maior corpo e escala. Esses grupos atuariam de forma bem sucedida
em segmentos específicos, onde suas habilidades são valorizadas pelo
consumidor. A criação de bancos regionais, no modelo norte-americano ou europeu
pode também estimular a competição no setor.
Mais eficiente que obrigar o oligopólio
criado a baixar suas margens, seria criar condições institucionais condizentes
com a entrada de novos investidores no setor. Bancos estrangeiros assustam-se
com a possibilidade de não alcançar as escala de operação necessárias no Brasil
ao assistirem os níveis de depósitos compulsórios praticados por aqui.
Alarmam-se com uma inadimplência no crédito tão elevada.
O depósito compulsório representa alguma
coisa como 35% dos depósitos no sistema bancário brasileiro, enquanto na China
comunista, esses depósitos não ultrapassam os 20% do sistema local. A
classificação de riscos para concessão de empréstimos recentemente evoluiu
muito, mas o cadastro positivo só agora começa a ser construído.
Para os novos entrantes, medidas como
essa reduzem riscos e permitem antever possibilidades de crescimentos e de
remunerações dos capitais investidos. Previsibilidade é o nome do jogo.
Improvisos causam incertezas.
De fato, as bolhas na área de crédito
são criações fantasiosas, nascidas das preocupações com a morosidade da
implantação do conjunto de reformas que o setor pede e necessita.
Causa estranheza observar tanta
disposição do governo em se opor aos agentes econômicos. Só nesse ano, o
governo já se engalfinhou, e de forma autoritária, com produtores rurais,
mineradoras, sistema financeiro e indústria automobilística. Por que algum
banco internacional estaria disposto a entrar em um país que se debate contra
os que investem, produzem, empregam e recolhem impostos? Os capitais
estrangeiros, tributados por novas regras, estão em fuga maciça do país e a
culpa é lançada exclusivamente sobre a combalida Europa.
A expectativa de uma retomada do crescimento no
segundo semestre, esquece, entretanto, que as medidas econômicas, tomadas para
induzir um nível maior de crescimento, não produziram os efeitos anunciados. Os
bancos, com lucros em queda, e a indústria automobilística, com seus grandes
estoques, podem puxar o cordão das demissões, em pleno ambiente de
desvalorização do Real.
Algumas empresas já apresentam grandes exposições
a moedas estrangeiras, principalmente em dólares. Muitas captaram recursos
internacionais, sob as formas possíveis. O descompasso entre ativos e passivos pode
exigir novos vetores de correção que, invariavelmente, levam a demissões.
A maior parte dos passivos em moeda
estrangeira está em forma de empréstimos, títulos emitidos e valores
mobiliários.
Sem avanços institucionais, sem
reconciliação com agentes econômicos locais e internacionais e sem
investimentos governamentais vai ficar difícil nesse semestre.
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