O recuo do capital internacional não é só
fruto da crise européia
Dificilmente o dólar abandonará sua
tendência de alta. Não se trata da crise européia. Apenas. Mas do protagonismo
estabanado que as paixões ideológicas provocaram nas nossas relações com os
capitais nacionais e internacionais.
Internamente, em muito pouco tempo, o
governo federal ameaçou as montadoras com a abertura de seus números para
entendimento dos elevados custos de produção de veículos no Brasil. Pouco
antes, havia exposto produtores rurais ao antagonismo com a sociedade em geral
e, por fim, transformou os bancos em inimigo número 1 do crescimento nacional.
Não satisfeito, procedeu a reiteradas
intervenções nos mercados de juros e no de câmbio, alcançando resultados não
esperados e provocando desequilíbrios, cujos controles parece lhe fugir das mãos.
Desonerações e protecionismos marcam a quebra das regras do jogo e, mais
recentemente, a forma autoritária das práticas, no campo das relações internacionais,
provoca insegurança e afasta investimentos.
Em relação à América Latina, vivemos um verdadeiro
constrangimento provocado pelas recentes nacionalizações ocorridas em passado muito
recente. A cada dia, novas declarações de líderes regionais instigam os investidores
e acobertam práticas delituosas associadas ao tráfico de drogas e de armas.
Bolívia, Equador e Venezuela não podem ser considerados jóias da democracia
contemporânea. Basta consultar a forma como seus líderes se elegem, ou reelegem,
e como governam. Sobre eles, incluindo o atual governo argentino, pairam sérias
acusações de desrespeito permanente à imprensa livre e aos direitos de
expressão.
Em outras palavras, não deveria haver presteza
tão inusitada em tomar posições sobre o governo paraguaio, até porque, como
afirma o ministro Patriota “o Brasil costuma reconhecer Estados, não governos”.
A fala do ministro foi fatal para as
intenções punitivas de que se revestem as declarações de nossa presidente.
Problemas de soberania nacional não devem sofrer ingerências dessa natureza.
Não cabe a países estrangeiros definir ou palpitar sobre governos nacionais, pelo
menos enquanto o estado de direito estiver preservado.
Esse alinhamento ideológico é pernicioso às
necessidades brasileiras de capitais estrangeiros. O Brasil não consegue
realizar os investimentos referentes às verbas empenhadas em seu orçamento
nacional. Está sempre abaixo das metas orçamentárias. A poupança nacional
mostra-se insuficiente para fazer face a essas necessidades.
O trinômio que pressupõe a continuidade da
inclusão é formado por investimentos, empregos e renda. Daí porque não se pode
prescindir do capital internacional, nem afugentá-los. Mas, com esse tratamento
os investidores assistem a insegurança crescer, a previsibilidade
comprometer-se e a certeza do cumprimento aos contratos assinados esvair-se.
Vivemos um momento infeliz no plano de
nossa diplomacia com países, governos, empresas e investidores.
A culpa não é da crise na Europa. Ao
contrário, os capitais nesse instante buscam por um porto seguro, que,
lamentavelmente, o Brasil deixou de ser.
Nenhum comentário:
Postar um comentário