O
câmbio será a próxima preocupação
A
reação econômica brasileira, ainda que lenta, trará uma nova enxurrada de
dólares ao país. A demanda nacional estará mais ativa, sugerindo às empresas
multinacionais aqui instaladas a necessidade de aumentos dos investimentos
externos diretos, sob pena de perdas de suas participações no mercado local. Em
paralelo, o programa de privatizações, recém-anunciado, se bem-sucedido, engrossará
substantivamente o influxo de capitais para o país. Completando o quadro futuro
da oferta excessiva de dólares, a bolsa de valores trará capitais externos em
grandes quantidades, quer porque os preços desses ativos estão em níveis
atraentes, quer porque as empresas listadas em bolsa apresentarão resultados crescentes,
refletindo a expansão da demanda local.
A
bem da verdade, essa liquidez excessiva sempre interessou aos governantes, que se
utilizaram dela para manter a inflação nacional em patamares baixos. Também é
verdade que essa política cambial acabou reconhecida como uma das principais causas
do sucateamento industrial brasileiro.
De
março para cá, o país vive uma circunstância curiosa em relação à taxa cambial.
Tendo atingido os R$2,00 por dólar, os exportadores nacionais experimentaram
uma situação inusitada nos últimos tempos, usufruindo de uma recuperação
parcial nos resultados de suas exportações. Também assistiram à imposição de
uma barreira parcial a sua concorrência mais direta. Mas, francamente, para a
reconstrução da competitividade industrial brasileira, o dólar precisaria estar
valorizado em R$ 2,50, como, aliás, o próprio ministro Mantega reconheceu em
passado recente.
Entretanto,
a taxa atual, na casa dos R$ 2,00 só foi alcançada graças ao agravamento da
situação internacional, sobretudo na Europa, que elevou o risco-Brasil e, por
isso, reconduziu à origem, parte da liquidez da moeda internacional existente no
país. Contribuiu também de maneira decisiva, a redução das taxas de juros, aguçando
a aversão a risco, na medida em que comprometeu as remunerações dos
especuladores nacionais e internacionais. Para conservar seu valor atual, a
taxa de câmbio ficou dependente das intervenções quase diárias do Banco Central
no mercado.
O
dilema remanesce insolúvel. O câmbio flutuante, mesmo com as mal concebidas restrições
criadas ao capital estrangeiro, não darão conta de desvalorizar ainda mais o
real. Disseminam-se fortes dúvidas sobre a manutenção do valor de R$ 2,00 por
dólar, em caso de recuperação da economia nacional.
Se
o problema é a liquidez, que tal abrir um enorme programa de importações com o
objetivo de acelerar a atualização tecnológica nacional? A entrada da moeda
norte-americana poderia ser tão grande quanto à saída que essas importações
produziriam. E o país, conseguiria mesmo atingir um razoável grau de modernizado?
Há mão de obra técnica disponível para essa modernização?
Veja,
portanto, que o problema não é o capital. Ele existe de forma abundante. O
carro pega é na educação nacional, incapaz de formar pessoas aptas ao trabalho mais
sofisticado e melhor remunerado.
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