Praticidade
liberal divide América Latina
No
Brasil o assunto não mereceu atenção. A imprensa talvez não tenha avaliado bem
as consequências econômicas que o episódio poderá representar à vida econômica
dos países do Mercosul. Quanto ao governo, com seus sonhos hegemônicos e
dominados por razões ideológicas, a atenção dada ao problema foi quase nenhuma.
O Itamaraty certamente registrou o fato, mas evitou fazer comentários para não
aumentar as tensões em suas conturbadas relações com o governo central. Quatro
países da costa pacífica resolveram criar a “Aliança do Pacífico Latino-americano”:
Chile, Peru, Colômbia e México.
Seguindo
um receituário agressivamente liberal, deram partida em dezembro de 2011, a busca de uma
nova união aduaneira, suprimindo impostos de importação, permitindo a livre
circulação em seus territórios de pessoas dessas quatro nações, e facultando a
livre circulação aos capitais e aos serviços. Em breve, estarão integrando essa
aliança o Panamá e a Costa Rica.
Serão ao todo cerca de 220 milhões de pessoas
integradas por acordo de abertura comercial surpreendente e de mobilidade
inusitada de seus habitantes pelos quatro países. Juntos, representam algo como 60% das exportações da
América latina para outras regiões do mundo.
É
apenas o início de uma nova jornada econômica que precisa ser analisada com
maior cautela, mesmo que Mercosul apresente uma inegável superioridade
numérica. A dimensão do PIB da Aliança não ultrapassa os 2/3 do PIB do Mercosul,
entretanto seus países são economicamente mais homogêneos e equilibrados. A
Aliança foi construída sobre bases comercialmente mais abertas, em oposição ao
Mercosul, tomado por ideias protecionistas.
Fica
agora mais difícil imaginar que esses países tenham interesse ou intenções de se
incorporarem ao Mercosul, envolvido em disputas políticas e patrocinando
conflitos quase irreconciliáveis entre seus sócios. A entrada da Venezuela no
bloco trouxe enorme desconforto diplomático à manutenção de sua união e exacerba
a fragilidade geopolítica do Paraguai. Além do Paraguai, essa fragilidade se estende à Bolívia e ao Equador, todos à busca de alternativas, já que estão esquecidos pelo
Mercosul e pela Aliança do Pacífico.
Para
ser admitido na Aliança estabeleceu-se um requisito que soa como uma
advertência a outros acordos na região. O país postulante terá que apresentar
acordos de livre comércio com as grandes regiões econômicas do mundo.
A
inspiração para criação da Aliança é, de fato liberal, e seu objetivo claramente
será o de abrir novos mercados em qualquer parte do mundo.
A
América Latina pode virar um palco de novas disputas econômicas, marcado
por acentuadas divergências políticas.
O
Itamaraty precisa agir rapidamente, ainda que isso desagrade o desavisado Governo
Federal.
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