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segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Mercosul “toma bola nas costas”

Praticidade liberal divide América Latina
No Brasil o assunto não mereceu atenção. A imprensa talvez não tenha avaliado bem as consequências econômicas que o episódio poderá representar à vida econômica dos países do Mercosul. Quanto ao governo, com seus sonhos hegemônicos e dominados por razões ideológicas, a atenção dada ao problema foi quase nenhuma. O Itamaraty certamente registrou o fato, mas evitou fazer comentários para não aumentar as tensões em suas conturbadas relações com o governo central. Quatro países da costa pacífica resolveram criar a “Aliança do Pacífico Latino-americano”: Chile, Peru, Colômbia e México.
Seguindo um receituário agressivamente liberal, deram partida em dezembro de 2011, a busca de uma nova união aduaneira, suprimindo impostos de importação, permitindo a livre circulação em seus territórios de pessoas dessas quatro nações, e facultando a livre circulação aos capitais e aos serviços. Em breve, estarão integrando essa aliança o Panamá e a Costa Rica.
Serão ao todo cerca de 220 milhões de pessoas integradas por acordo de abertura comercial surpreendente e de mobilidade inusitada de seus habitantes pelos quatro países. Juntos, representam algo como 60% das exportações da América latina para outras regiões do mundo.
É apenas o início de uma nova jornada econômica que precisa ser analisada com maior cautela, mesmo que Mercosul apresente uma inegável superioridade numérica. A dimensão do PIB da Aliança não ultrapassa os 2/3 do PIB do Mercosul, entretanto seus países são economicamente mais homogêneos e equilibrados. A Aliança foi construída sobre bases comercialmente mais abertas, em oposição ao Mercosul, tomado por ideias protecionistas.
Fica agora mais difícil imaginar que esses países tenham interesse ou intenções de se incorporarem ao Mercosul, envolvido em disputas políticas e patrocinando conflitos quase irreconciliáveis entre seus sócios. A entrada da Venezuela no bloco trouxe enorme desconforto diplomático à manutenção de sua união e exacerba a fragilidade geopolítica do Paraguai. Além do Paraguai, essa fragilidade se estende à Bolívia e ao Equador, todos à busca de alternativas, já que estão esquecidos pelo Mercosul e pela Aliança do Pacífico.
Para ser admitido na Aliança estabeleceu-se um requisito que soa como uma advertência a outros acordos na região. O país postulante terá que apresentar acordos de livre comércio com as grandes regiões econômicas do mundo.
A inspiração para criação da Aliança é, de fato liberal, e seu objetivo claramente será o de abrir novos mercados em qualquer parte do mundo.
A América Latina pode virar um palco de novas disputas econômicas, marcado por acentuadas divergências políticas.
O Itamaraty precisa agir rapidamente, ainda que isso desagrade o desavisado Governo Federal.

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