Investimento estrangeiro fica abaixo
do déficit externo
Veículo: DCI - Data: 24/02/10Por Fernando Teixeira
São Paulo, 23 de fevereiro— Balanço do Banco Central (BC) mostra que as transações correntes foram deficitárias em US$ 3,8 bilhões, acumulando, nos últimos 12 meses, déficit de US$ 25 bilhões – equivalente a 1,56% do PIB. Outro número que apresentou forte queda foi o Investimento Estrangeiro Direto (IED). No acumulado dos últimos 12 meses até janeiro, o ingresso de investimento produtivo no Brasil soma US$ 24,808 bilhões, o equivalente a 1,52% do PIB.
Em igual período até janeiro de 2009, o IED somava US$ 42,162 bilhões, ou 2,64% do PIB. Este é o pior resultado, desde maio de 2007, quando entraram no País US$ 497 milhões, ante os US$ 789 milhões de janeiro deste ano. Também é a primeira vez que o índice fica abaixo do déficit, na comparação com 12 meses.
De acordo com o Banco Central, conta financeira ( investimentos em ações e outros instrumentos financeiros) apresentou ingressos líquidos de US$ 6,2 bilhões no mês. Destacaram-se os ingressos líquidos de investimentos estrangeiros em carteira, US$ 3,7 bilhões.
Só o investimento em ações negociadas no país ficou positivo em US$ 1,278 bilhão. Já entre as negociadas no exterior o saldo foi negativo de US$ 17 milhões.
Já a conta de serviços apresentou déficit de US$ 1,3 bilhão em janeiro, 128% superior ao registrado para o mesmo mês de 2009.Segundo especialistas ouvidos pelo DCI, o resultado negativo pode ser revertido. A aposta é o investimento em infraestrutura, impulsionadas pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e por eventos esportivos, além de montadoras, da construção civil e de indústrias químicas, como petróleo e farmacêuticas.
Para o professor da Universidade de São Paulo (USP) e presidente do instituto de pesquisa de mercado Fractal, Celso Grisi, a queda no IED aconteceu por causa da crise do ano passado. O fenômeno fez com que, segundo o especialista, as remessas de investimentos brasileiros diretos ao exterior (IBD) superassem os ingressos de IED, totalizando US$ 1,247 bilhão. “As matrizes precisaram se defender e cessaram o fluxo de capital às subsidiárias. Outras empresas optaram por retardar investimentos, que devem voltar agora”, destacou.
Grisi destaca que o mercado prevê um superávit de quase US$ 40 bilhões no IED. Contudo, discorda e aposta em valores mais modestos, como US$ 10 bilhões.
“As previsões dão conta de R$ 38 bilhões. Precisamos ver a balança comercial, pois para ser superavitária, precisaremos de investimentos diretos altos. Para isto precisamos que países mais desenvolvidos importem do Brasil produtos de valor agregado e não apenas commodities”, diz.
O professor da USP lembra que uma empresa como a Cutrale, que detêm cerca de 30% do mercado global de suco de laranja, não possuí uma marca para comercializar o produto e com isso não agrega valor ao produto. “Não temos políticas de industrialização para exportar produtos. Precisamos de crédito e política fiscal para exportar carros e não vender apenas para o consumo interno. Precisamos de taxas de câmbio favoráveis.”
Mais otimista quanto aos números do IED e esperando melhores resultados das contas do governo em 2010, o professor de macroeconomia da Trevisan Escola de Negócios, Alcides Leite Domingues Junior aposta que as obras do PAC, Olimpíadas e Copa do Mundo tragam divisas internacionais ao Brasil.
Domingues Junior disse que a balança nacional é alto ajustável, pois possui reservas internacionais que somaram US$ 240,5 bilhões. “Contamos com reservas para suprir o déficit de investimento no Brasil Quando o dólar sobe, faz os números positivos novamente”. Na visão dele, é provável que Banco Central pare de comprar dólar.
Para ele, a crise provocou um movimento de freio na economia brasileira. “Se não houvesse crise, poderíamos chegar a US$ 60 bilhões em IED. Acredito que chegaremos perto de US$ 40 bilhões até o final do ano”.
Até esta terça-feira, 23, o ingresso de Investimento Estrangeiro Direto, de acordo com o Banco Central, somou US$ 2,2 bilhões em fevereiro. A expectativa é encerrar o mês com um ingresso de US$ 2,7 bilhões em investimentos produtivos, o que representa uma forte recuperação na comparação com janeiro.
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