Varejo brasileiro prevê alta de preços após retaliação aos EUA. Especialistas, entretanto, descartam aumentos expressivos e criticam medida do governo
Economia - Portal de Record - R7 - Raphael Hakime, do R7 publicado em 08/03/2010 às 21h22:
O aumento da alíquota de importação para mais de cem produtos americanos, anunciado nesta segunda-feira (8) pelo governo brasileiro, vai surtir efeito “quase que imediato”, com repasse nos preços finais dos artigos, e penalizar o consumidor, segundo avaliação da Apas (Associação Paulista de Supermercados). Entretanto, especialistas brasileiros dizem não acreditar em uma alta expressiva dos preços nos supermercados.
O vice-presidente de comunicação da Apas, Martinho Paiva Moreira, alerta que, embora atinjam com mais intensidade as classes A e B, público que costuma comprar os produtos importados, os aumentos virão dentro de dois meses.
Todos esses produtos [da lista] devem ter aumentos, que chegarão num período entre 45 e 60 dias. Além de produtos alimentares como nozes, avelãs e ameixas, podemos incluir produtos de higiene, como as lâminas de barbear, que são importadas dos EUA. O consumidor vai acabar sendo penalizado.
Milton Guedes de Oliveira, sócio-proprietário da Galeria dos Pães, padaria de luxo da capital paulista, confirma que o comércio vai repassar o aumento ao consumidor em dois meses, mas “no caso de alguns produtos perecíveis, os novos preços chegarão antes”. Oliveira afirma que, para driblar o crescimento repentino dos preços, “o brasileiro deverá optar por produtos nacionais, que também são de boa qualidade”.
Lytha Battiston Spíndola, secretária-executiva da Camex (Câmara de Comércio Exterior), órgão ligado ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, descartou nesta segunda-feira (8) impacto no consumo brasileiro. Entretanto, ela admitiu que os preços dos produtos americanos que entram no Brasil podem subir com o aumento das alíquotas do imposto de importação.
Apesar da previsão pessimista dos supermercados, especialistas afirmam que o aumento de preços deve ser tímido e se restringir ao público com maior poder aquisitivo. Para ilustrar a tese, Adriano Gomes, professor de finanças da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing), explica que “provavelmente, uma pessoa da classe baixa nem sabe o preço da avelã”. Segundo Gomes, a alíquota de importação compõe apenas um dos cinco impostos embutidos (imposto de importação, IPI, ICMS, PIS e Cofins) nos produtos comprados do exterior e considera a medida "inglória".
- Normalmente, não é muito inteligente exercer esse tipo de direito [de aumentar a alíquota de produtos após autorização da OMC] porque o consumidor é quem vai pagar as contas no final, e também há um risco de um aumento da inflação.
O professor da USP (Universidade de São Paulo) Celso Grisi descarta qualquer efeito sobre a inflação com as novas alíquotas porque o número de produtos é inexpressivo. Assim como Gomes, ele não acredita em repasse dessas altas para o consumidor e afirma que o Brasil pensou muito antes de escolher os artigos que teriam sua tributação elevada.
- O governo brasileiro tomou muito cuidado com essa lista. Primeiro, escolheu produtos que não fizessem falta e prejudicassem a indústria nacional. As matérias-primas vendidas pelos EUA ao Brasil, das quais dependemos, não estão na lista. Depois, pensou em encontrar fornecedores mundiais dos mesmos produtos. Claro que pode haver uma redução da qualidade. Por fim, o Brasil pensou muito em estimular a produção nacional [dos mesmos produtos].
O governo brasileiro anunciou nesta segunda-feira (8) o aumento da tributação de 102 produtos americanos importados pelo Brasil. A retaliação, que seria como um "troco" do Brasil aos Estados Unidos, foi autorizada no ano passado pela OMC (Organização Mundial de Comércio). Na prática, ela permite que a taxa de importação dos produtos aumente, como forma de diminuir a compra.
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