No mercado financeiro global,
previsibilidade é questão central
Os capitais estrangeiros que haviam entrado
com força na Bovespa, desde o mês de janeiro, levantaram âncoras e zarparam a
busca de portos mais seguros.
Teria sido, na hipótese de analistas, a
instabilidade grega e/ou o agravamento das circunstâncias econômicas da Espanha,
os responsáveis pela evasão desses capitais. Em certa medida, é possível aceitar
esses dois elementos como relevantes nas decisões de escolha de um país para a
alocação de ativos monetizados. Mas, é preciso considerar que a previsibilidade
no Brasil reduziu-se consideravelmente. A carga tributária passou por
deslocamentos, de seu peso relativo entre os setores econômicos, nada
desprezíveis, a partir das chamadas desonerações. O ambiente econômico nacional
tornou-se mais protecionista e passou a ser defendido, configurando reservas de
mercado inaceitáveis para os produtores locais. Os problemas fronteiriços estão
se tornando mais sérios, quer na Bolívia, quer no Paraguai e na Venezuela. Os
procedimentos truculentos para o encaminhamento da redução dos juros
surpreendeu a todos, abandonando o tratamento técnico e lançando o sistema
financeiro em confrontos políticos da pior qualidade. As imagens das
instituições dessa área saíram desse episódio desgastadas.
Nos últimos tempos, tudo passou a ser tratado
de forma política e unilateral, sem consultas, abusando da estratégia de cabo
de guerra. O governo, mais forte, deixou de intervir para, de fato, arrastar os
agentes em direções avessas àquelas que, em princípio, a liberdade econômica
lhes garantiria.
Resultados práticos para o crescimento
ainda não apareceram. Só a inflação suspira, ameaçadoramente. Indústria e
crédito estão retraídos. A falta de previsibilidade explica a inércia dos
investimentos privados e do consumo das famílias.
Contávamos com o capital internacional para
garantir níveis crescentes de emprego e para a expansão do PIB. Ele nos deixou.
Até o ministro Mantega já reduziu suas previsões para o crescimento nacional.
Há muita fumaça no ar e pouco fogo na
terra. O desconforto dos analistas internacionais refere-se às decisões de
política monetária descompromissadas com a estabilidade da moeda e com a política
fiscal cuja natureza contracíclica tem revelado uma surpreendente
despreocupação com a redução do superávit primário.
Assistimos mudanças tão consideráveis na
estrutura industrial do país que já se admite a hipótese de que uma nova política
industrial, improvisada e não planejada, está em curso. Parece que o ideologismo
Cepalino nutre os espíritos e as decisões que, por sua vez, fizeram a
previsibilidade se esvair e recomendam que o governo “devagar com o andor”.
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