A valorização é um bom ou mau sinal?
Fica difícil dizer. Talvez seja sinal dos tempos, apenas.
A deterioração do mercado europeu pôs em questão o risco dos países
emergentes, com ênfase no mercado brasileiro que, nesse momento, vive mais uma
de suas criativas experiências econômicas.
Engendrada nos laboratórios experimentais
do Banco Central e do Ministério da Fazenda, as novas políticas monetárias que
privilegiam o crescimento e abrandam os objetivos do controle da moeda nacional,
dão curso às tentativas de redução das taxas de juros. De início,
realmente os juros caíram e há razões para acreditar que, no curto prazo, pelo
menos, os propósitos governamentais serão bem sucedidos.
Nos fluxos de moedas internacionais, contudo, o saldo anual positivo desapareceu. Até o mês de março, o país havia acumulado valores expressivos nos
influxos de capitais. Em abril, esse saldo ficou zerado. São capitais estrangeiros
batendo em retira, de volta aos seus países de origem, em função do agravamento
da crise internacional patrocinado pela Europa e dos
diferenciais entre as taxas de juros nacionais e internacionais que minguaram a partir da redução da Selic.
Eis como pode aparecer, pela primeira vez em muitos anos, a dificuldade
para financiar os déficits de nossas contas externas. E eis, de igual maneira,
como poderão surgir, com maior gravidade, novos obstáculos para girar a dívida
interna, com a captação dos títulos públicos desestimulada pela redução das
taxas de juros.
Começo a supor que a taxa cambial brasileira venha mesmo a atingir os
R$ 2,00 por dólar, até o final do ano. Nesse andar da carruagem econômica
brasileira, a captação de recursos externos por bancos e empresas nacionais
pode cair de forma abrupta e, se não socorrida por investimentos externos
diretos, é de se esperar por resultados contundentes, na balança de pagamentos,
em prazo relativamente curto.
A bolsa, que no acumulado de abril apresentou-se com um fluxo
praticamente zerado, envia-nos o primeiro aviso. O segundo vem das aplicações
estrangeiras em renda fixa, notadamente em papéis representativos da dívida
oficial. Bem verdade que o governo ainda conta
com a possibilidade de isentar esses investimentos do IOF de 6%, em
empréstimos externos inferiores a 5 anos, e recuperar a competitividade dessas
aplicações. Seria uma nova mudança nas regras, conturbando, mais uma vez, o já
atrapalhado mercado financeiro para aplicações no Brasil, aparentemente
salvo com o providencial ajuste da semana passada.
Também não convém suoestimar o prazo para que as recentes medidas econômicas
façam efeito. Não é de acreditar que empresários reajam de imediato aos
incentivos governamentais. Tomarão algum tempo para se convencer, após tantos anos
de descaso com a política industrial, que a partir de agora é “pra valer”.
A decisão de voltar a investir será postergada até que as expectativas de longo
prazo sejam revisadas. Enquanto isso, os investidores estarão se equilibrando em cima dos
muros que galgaram nesses anos de crise no mundo. Também, não será possível
imaginar que a depreciação do real venha
produzir a imediata recuperação dos compradores de produtos nacionais. Esse será um
trabalho árduo de reconquista de mercado e que só aparecerá mais tarde, quando
o exportador brasileiro convencê-los de que suas ofertas serão mantidas no
tempo.
Os mercados já enviaram suas mensagens, sinalizadas em números que podem
minar as intenções das autoridades econômicas. Pior será ainda se a inflação
mostrar suas garras. O que faremos? Subiremos os juros outra vez ou o governo
pretende endurecer fortemente sua política fiscal? Há sempre a chance de reduzir
os ganhos reais do trabalhador e com isso arrefecer a demanda. Ou ainda, voltar
a apreciar o real para contribuir no combate a uma futura escalada dos preços.
E se os bancos pequenos e médios começarem a estourar, subtraídos de suas
margens e engolidos pela inadimplência dos mercados que frequentam? O Governo
promoverá um novo Poer? Justo ele, que combateu tanto esse programa?
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