Ansiedade a mais da conta
Parece certo uma queda brusca na atividade
econômica mundial. E claro, com impactos sobre a vida dos brasileiros. Não ao
ponto de destruir os avanços alcançados nos últimos anos.
Estamos diante de uma crise de origem fiscal,
apenas. São enormes as dívidas acumuladas pelos países desenvolvidos. Algumas,
sem dúvida, impagáveis. Na Europa, a “operação regate” tem natureza democrática
ao consolidar as dívidas de cada país e distribuí-las entre os demais, sempre as
compartilhando com a iniciativa privada. Os primeiros a segurar o mico, no
setor privado, são merecidamente, os bancos nacionais e estrangeiros. A essa
altura, já não se sabe mais, de que problemas esses bancos são a causa e de que
outros os governos são os responsáveis. Um e outro, democraticamente, dividirão
as conseqüências, repassando-as mais cedo ou mais tarde as suas populações
nacionais. Nos Estados Unidos o pragmatismo se impôs no último acordo alcançado
no senado. O repasse para a população foi imediato, por meio de cortes aos
programas sociais e assistenciais. Aumentos de impostos as elites republicanas
não aceitam. O mico é mesmo da população,
de forma direta e imediata. Sem volteios.
Os dois maiores protagonistas do comércio mundial
foram à lona e isso impõe a recessão anunciada. Como ficamos no Brasil?
A redução do comércio exterior vai nos alcançar
em duas vertentes. Redução nas quantidades de todos os produtos exportados e a queda
nos preços das commodities. As
grandes economias ocidentais passam a importar menos e, como decorrência, a
China perderá mercado para seus produtos industrializados, sofrendo expressivo impacto
em seu nível de emprego e de renda. Com renda menor, importará menores
quantidades das commodities
brasileiras, afetando os preços das exportações desses produtos brasileiros.
Outra vez, o mercado interno pode salvar a
lavoura. A área econômica já mostra indícios de finalizar o ciclo de aperto
monetário para ativa, mais uma vez, a demanda interna. Juros podem ser
baixados, depósitos compulsórios liberados, prazos de financiamentos aumentados
e impostos reduzidos nas operações financeiras. Nada de uma só vez, mas com os
cuidados macroprudenciais costumeiros às autoridades econômicas, obedientes às
suas tradições anticíclicas. É bem verdade que a inflação pode recrudescer e a
inadimplência aumentar. Mas há espaços para combater a alta de preços por meio
de medidas fiscais no Brasil e a inadimplência se encontrará com um sólido
sistema financeiro nacional, capitalizados e desalavancado, salvo exceções
pontuais.
Na esteira dessas possibilidades macroeconômicas,
o real se depreciaria, possibilitando salvar o que restou de nosso parque
industrial. Com juros mais baixos e preços de exportações em queda, o influxo
de dólares para o Brasil seria reduzido e a moeda norte-americana tenderia a
uma salutar apreciação.
Mas o melhor de tudo (se é que em situações como a
atual se possa utilizar essa expressão) é que poderíamos ampliar nosso superávit
primário, em direção ao nominal, cortando despesas e, quem sabe, desonerando
folhas de pagamentos e reduzindo alíquotas tributárias sobre os sofridos produtores
nacionais. A política fiscal será decisiva nesse momento, para continuar
reduzindo o tamanho do déficit primário do governo federal, reduzindo mais
ainda o crescimento da dívida pela necessidade do financiamento desse déficit
primário e o custo do financiamento da dívida pública.
Realmente não há motivos para tantas emoções.
Exuberamos nossos comportamentos nos mercados financeiros, cometendo exageros na
precificação miserável de ativos que são sólidos e muito atraentes.
Como diria o caboclo no interior desse país “ é ansiedade
a mais da conta, sô!”
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