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sexta-feira, 6 de setembro de 2013

O governo perde a mão

Orçamento público e o clamor das ruas
As manifestações nas ruas das grandes e médias cidades não foram eventos isolados. Ao contrário, refletem uma combinação errática de fatos que tornaram o momento brasileiro muito difícil. À queda nos preços da maioria das commodities agrícolas e metálicas, exportadas pelo país, juntaram-se o recrudescimento inflacionário, a deterioração das contas públicas, o baixo nível da atividade econômica e a desvalorização abrupta da moeda nacional. Juntas essas variáveis tornaram-se explosivas, dando fim ao longo período de flerte dos capitais estrangeiros com o Brasil.
Para complicar um pouco mais, o governo faltou com os seus compromissos em relação às políticas de estabilização, reduziu a taxa Selic de forma abrupta e a patamares excessivamente baixos. De igual maneira, faltou com esses compromissos ao abandonar a austeridade fiscal em nome de um esforço contracíclico não planejado e casuístico. Para piorar, o Fed anunciou sua intenção de gradativamente limitar a política de estímulos financeiros e voltar a aumentar os juros norte-americanos. Riscos menores nos Estados Unidos e remunerações maiores de seus treasuries contribuem para que um grande volume de capitais deixe o mercado brasileiro à busca de refúgio, em rápido regresso, que poderia ser batizado como “o bom filho à casa torna”.
A apreensão política e social causada pelos protestos deixarão marcas nas eleições de 2014. Os partidos do governo devem sair, em alguma medida, chamuscados desse pleito e as forças políticas deverão se reorganizar em direção a novos paradigmas.
O país tem sido apontado como um poupador medíocre e, portanto, dependente de capitais internacionais para manter o ritmo de investimentos capaz de impulsionar a economia nacional a taxas superiores. Entretanto, é de se registrar que apesar da estagnação no índice de consumo e que, mesmo diante de um quadro de redução do ritmo de expansão do PIB, os investimentos externos diretos fecharam o primeiro semestre em tornos dos 30 bilhões de dólares.
A atratividade do setor de infraestrutura, gás e petróleo poderão dar fôlego à reversão das expectativas e venham produzir um novo influxo de capitais. Afinal, os protestos têm sido entendidos, antes de qualquer outra cogitação, como a canalização da frustração popular com qualidade de serviços públicos, sobretudo nas áreas da saúde, do transporte, da segurança e da educação.
Tudo mais parece um brado de alerta dirigido a quantos imaginam que a população possa apoiar um modelo de capitalismo de estado, suportado por práticas delituosas de seus gestores e pelo alastramento da corrupção na vida nacional.
As vozes vindas das ruas devem ser recepcionadas como uma exigência da população para o aumento da eficiência dos serviços públicos, diante de um estado impetuoso no recolhimento de impostos, perdulário e inescrupuloso em seus dispêndios. É bem verdade que as demandas sociais cresceram muito nesses últimos anos, mas não justificam os desmandos econômicos e financeiros do governo central que agora alega não ter folga financeira em seu orçamento para dar curso ao atendimento das reivindicações populares.

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