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sábado, 14 de novembro de 2009

The Economist e o Brasil

Brasil na roda

Atendo o pedido de meu amigo Paulo Mingrone
A revista britânica The Economist volta a cobrir a economia brasileira. Agora, a matéria é de capa. Toma quatorze páginas da edição. Sob o título Brazil Takes Off, cujas traduções – considerando-se o teor da matéria-, poderiam ser “Brasil Debuta” ou “Brasil Descola”, nunca “Brasil Decola”. Isso caracterizaria um período de autismo jornalístico, já que toda análise não trás nada de novo. Fala do que já se tem falado, fala do óbvio, e, tardiamente, conclui sobre o quê já é consenso. Portanto, as 14 páginas apenas homenageiam dois presidentes e convidam para o “baile de debutante” do Brasil, no cenário internacional.
O artigo lembra as resistências, em 2003, à inclusão do Brasil entre os demais emergentes e identifica as causas de seu desenvolvimento e os problemas embutidos na vida política e social brasileira. Lembra a estabilidade econômica, conquistada pela disciplina fiscal e monetária, imposta à economia desde os anos 90, lembra os programas de saneamento dos bancos públicos e privados que produziram um sistema financeiro sólido. Registra que o crescimento voltou ao patamar de 5%, taxa essa que, entende,nos próximos anos, a partir da maturação dos investimentos feitos nos novos campos de petróleos, em águas profundas. Renova a vocação brasileira para a produção de alimentos e commodities metálicas. Chega ao delírio, prevendo que, depois de 2014, a economia brasileira poderia alcançar o posto da quinta maior economia do mundo, deixando atrás de si a Grã-Bretanha e França.

Loas e alertas se sucederam, em bipolaridades extremada. Seria tão errado subestimar o novo Brasil como ignorar suas fraquezas. “Os gastos do governo estão crescendo mais do que a economia como um todo, e os investimentos públicos e privados ainda são pequenos, o que lança dúvidas sobre as previsões mais róseas para a economia. Muito dinheiro público está indo para coisas erradas. A folha de pagamento do governo federal cresceu 13% desde setembro de 2008 (…). Apesar de avanços, a educação e a infra-estrutura (aqui o apagão não foi esquecido) ainda estão muito atrás das China e Coréia do Sul. Em algumas áreas do país, a criminalidade é alarmante”. "Lula tem razão ao dizer que seu país merece respeito. Mas, ele foi um presidente com muita sorte ao herdar as bases lançadas por seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso".
Também a democracia foi lembrada. Brasil, o país democrático. Brasil pluri-setorial, com pauta de exportação diversificada, sem conflitos étnicos, religiosos, sem hostilidades nas suas fronteiras e com um tratamento respeitoso ao capital estrangeiro.Beleza de reportagem! Faltou dizer que os problemas sociais, sobretudo os referentes à educação e à criminalidade, decorreram das imposições estabelecidas, por muitos anos, pelo Consenso de Washington. Lembro-me que tais eram as imposições que o Presidente da República de então, em voz muito alta, e que ressoa nos colegiados mundiais até hoje, pediu, na Conferência de Florença, em 1.999 “a existência de um espaço, no plano doméstico, para a condução de políticas que, sem prejuízo da responsabilidade fiscal e da coerência macroeconômica, respondam às questões fundamentais do bem-estar, do emprego e do desenvolvimento social e da inclusão dos segmentos que ainda estão à margem da sociedade organizada”.

Esse conceito, conhecido por “Governança Progressiva”, inaugura um momento novo na governança mundial. O custo social, extremamente elevado, lançou o país no colo da oposição. Crises sucessivas na Ásia, no México, na Rússia, na Argentina foram omitidas no artigo. As medidas restritivas impostas ao país pelo Consenso de Washington, foram omitidas, as causas dos problemas sociais não foram objetos de análise.
Meu caro amigo Paulo Mingrone, se há alguma “herança maldita”, não é difícil identificar suas causas. Nada de novo. The Economist “choveu no molhado” e evitou a análise mais profunda das verdadeiras razões dos elementos sociais brasileiros.

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