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quarta-feira, 25 de junho de 2014

Juros nos EUA devem continuar em alta


A normalização da inflação e crescimento sugere um cenário mais balanceado e,
portanto, com juros mais elevados
Contribuição de Roberto Padovani
Economista Chefe da Votorantim Corretora
Treasuries de 10 anos são fundamentais para mercado. Um dos principais guias dos mercados financeiros no último ano tem sido o comportamento da política monetária nos Estados Unidos, refletidas no comportamento da taxa de juros de longo prazo. A questão hoje é menos sobre o processo de retirada de estímulos de curto prazo e mais o nível em que a taxa de juros poderá alcançar no longo prazo, influenciando os juros longos. Neste caso, há três elementos centrais a serem avaliados: folga no mercado de trabalho, reação do Federal Reserve e nível da taxa de juros neutra.
Sinais de curto prazo explicam atuais patamares dos juros. Parte dos analistas acredita que um patamar justo para as treasuries de 10 anos estaria mais próximo aos níveis atuais, de 2,60%. A lógica deste cenário é que tanto medidas mais amplas de desemprego quanto a taxa de longo prazo quanto mostram que ainda há significativa capacidade ociosa na economia dos EUA, ajudando a conter os salários. Da mesma forma, os estímulos de política poderiam aumentar a oferta de trabalho, elevando o crescimento potencial e o desemprego. Considerando o duplo mandato do Federal Reserve, uma política ótima poderia ser a de tolerar uma inflação acima da meta no médio prazo enquanto o mercado de trabalho se normaliza. Como resultado, a taxa de juros poderia ficar por mais tempo abaixo de seu nível neutro. Não menos importante, evidências de um crescimento potencial mais baixo significam que a nova taxa de juros de equilíbrio poderia também ser menor que seu padrão histórico.
Desemprego de curto prazo é variável central. Diferentemente, no entanto, o desemprego de curto-prazo, o componente mais importante para a inflação nos EUA, não mostra mais folga na economia. Mesmo considerando uma maior tolerância à inflação no médio prazo, estudos recentes do FED mostram que a resposta ótima de taxa de juros a um cenário de normalização da inflação continua sendo a mesma. Neste caso, eventuais mudanças estruturais, que diminuem a oferta de mão de obra e reduzem a taxa de desemprego, apenas reforçam um cenário em que a alta da taxa de juros possa acontecer mais cedo que o esperado. Além disso, há cada vez mais evidências de que os custos de uma política monetária excessivamente acomodatícia superam os benefícios em termos de riscos financeiros e, não menos importante, um menor crescimento potencial não necessariamente se traduz em menor taxa de juros neutra. Neste caso, as treasuries de 10 anos poderiam estar operando mais próximas ao patamar de 3,30%.

Curioso que se invista tanto



Estrangeiros apresentaram comportamentos atípicos
Os Investimentos Estrangeiros Diretos somaram US$ 5,9 bilhões, no mês de maio. O número surpreende a todos, exatamente no momento em que se cristaliza a crença sobre a perda de atratividade do país para os investidores internacionais. Na realidade não há que estranhar, pois dinheiro destinado a integrar a produção nacional tem lógica bem diferente do dinheiro de especuladores. Interessante também notar que o IED acumulou US$ 66,5 bilhões de maio de 2013 a maio de 2014, equivalendo a quase 3,0% do PIB nacional. O registro mais interessante, nesse particular é a entrada para investimentos em ações. Uma loucura que saiu dos US$ 650 milhões no mês anterior para nada menos que US$ 5,5 bilhões, em maio. Durma-se com um barulho desses. 
A renda fixa esteve em queda, com saídas líquidas de US$ 32 milhões, em maio, apesar da Selic. Para os próximos meses é de se esperar por número menores, mas nada que ponha em dúvida a capacidade do IED financiar parte do déficit em conta corrente projetado para 2014 em algo na casa dos US$ 80 bilhões.

quinta-feira, 19 de junho de 2014

Sobre o último pacote (1)

Erros aprendidos e erros não aprendidos.
Não há dúvida que no Brasil de hoje os investimentos devem ser incentivados. Nesse sentido, há que se aplaudir as medidas finalmente anunciadas pelo governo federal. O pacote mostrou que algumas coisas foram aprendidas e assimiladas pelo governo e outras não.
Entre as não aprendidas, destaca-se:
1)      Investimentos só se perfazem, em qualquer país, se, e quando, houver mercado com dimensões suficientes para retornar os capitais investidos. Sem mercado é as razões para eles desaparecem.
2)      É preciso garantir condições institucionais que ofereçam segurança jurídica aos aportes esperados e que os mantenham isentos das mudanças de regras durante um longo período. O intervencionismo estatal é por isso mal visto, embora sejam aceitas regulações e fiscalizações que não cerceiem a livre iniciativa.
3)      Fundamentos econômicos não podem sofrer flexibilizações, sob pretexto de ampliar o consumo, aumento de renda ou o nível de emprego. O fim dessa história é conhecido como inflação elevada e suas consequências mais cruéis.
Em relação ao que se aprendeu, o pacote mostrou a impropriedade de estabelecer prazos para duração das bondades. O que se espera é que decisões, como a do Reintegra, transformem-se em política econômica, descaracterizando subsídios temporários, com prazo de validade estabelecido no rótulo, por medida provisória. Ninguém tomará uma decisão de investimento em uma economia se souber que as condições que sustentam a decisão deixarão de existir a partir de tal data. Isso parece que o governo entendeu.
Por fim e independentemente dos méritos desse pacote, será forçoso reconhecer que o governo apenas produziu esse conjunto de medidas para reverter sua má avaliação entre empresários, com olhos em sua reeleição. Não porque creia em economia de mercado ou porque se identifique com a livre iniciativa. O empresariado sabe disso e não gostaria de ver esse governo no comando da economia nos próximos anos.
De fato, as empresas receberam um agrado insuficiente, um afago, acompanhado por sorrisos falsos. Um abraço. De tamanduá.

quarta-feira, 18 de junho de 2014

É preciso ser áspero com a inflação

Juros altos, o santo remédio para inflação
Na segunda prévia do mês de junho, o IGP-M apontou deflação de -0,64%. Não há surpresa nisso, depois do tratamento que o Banco Central dispensou à inflação, elevando muito e sucessivamente a Selic. A tendência de queda nos preços é uma realidade óbvia em ambientes com baixa atividade econômica. Forçoso reconhecer que inflação tem um bom inimigo na redução de demanda.
Já se espera por igual desaceleração no IPCA-15, sobretudo pela redução dos aumentos de preços no setor de alimentação. Os hortifrutigranjeiros são menos demandados, segundo os dados referentes ao atacado, onde os preços caíram mais fortemente. Os combustíveis devem contribuir também para a redução da inflação, em especial o etanol, responsável pelo péssimo desempenho do setor sucroalcooleiro. Por outro lado, não se espera pela redução do índice de difusão, de vez que as pressões da demanda ainda são exercidas de forma generalizadas sobre os preços da economia.

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Protegendo?

Ao preservar, podemos estar destruindo
Longe de querer “ensinar o Padre Nosso pro Vigário”, o fato é que as pesquisas apontam remanescer um potencial de mercado crescente e abandonado pelo sistema bancário e que deliberadamente busca por alternativas de financiamentos, mesmo que a custos significativamente mais elevados. Financiar esse expressivo segmento da economia nacional pode levar a perdas, como nos ensinam os melhores banqueiros; não financiá-los levará às deseconomias de escala, pressionando custos, spreads e juros nos seletos segmentos hoje servidos. Há até quem preconize um novo movimento de desintermediação bancária que, se ainda não ocorreu mais claramente, foi pela presença nesse segmento dos bancos públicos, cujos ativos cresceram expressivamente nesses últimos períodos. Em momento de baixo crescimento não se pode ignorar na prospecção de novos negócios a existência de segmentos ativos. Também não se podem perder negócios entre os clientes atuais. Esses clientes buscam por outros bancos para realizar as operações que o seu principal banqueiro não quis fazer. Há uma nítida desconcentração dos negócios dos clientes em bancos concorrentes. O cliente, desfidelizado, se vê obrigado a trabalhar com um número maior de bancos para ver suas necessidades financeiras atendidas. As deseconomias de escala, ou de escopo, a renúncia a segmentos ativos com risco mais altos, mas ainda administráveis, o enxugamento do portfólio de crédito, a consequente desintermediação bancária e a desconcentração dos negócios dos clientes atuais por um número menor de bancos respondem atualmente pelas piores pressões sobre custos e receitas dos bancos.

sexta-feira, 13 de junho de 2014

Enquanto se disputa a copa

Falta velocidade ao PIB Brasileiro

O IBC-Br apenas confirmou o que já se sabia: um crescimento miserável de março para abril de 0,12%. Na comparação com março do ano anterior o recuo foi de -2,3%. Na opinião de analistas, o segundo trimestre desse ano deve apresentar crescimento nulo, uma rara proeza do intervencionismo governamental. Por outro lado, para o ano todo, isso pode ser ainda pior, com o PIB frequentando o território dos números negativos. A surpresa agradável veio da China, com publicações de novos indicadores econômicos:

  • As vendas no varejo mostraram um crescimento de 12,5%em mio, ante maio de 2013, acelerando o crescimento em relação aos 11,9% do mês anterior. 
  • O investimento em ativos fixos urbanos mostrou expansão de 17,2% até o mês de maio em comparação ao mesmo período do ano passado. 
  • A produção Industrial cresceu 8,8%a/a também em maio, repetindo praticamente a mesma taxa do mês anterior. É de dar inveja.