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sexta-feira, 30 de maio de 2014

Esforço inútil

Depois de tanto esforço, o BACEN conseguiu
A ideia era a de desacelerar a economia para deter a inflação. Um dos melhores remédios para isso são os juros altos. E foi essa a trajetória que a Selic seguiu, sob a batuta do Banco Central. Demorou muito, é verdade. Mas, enfim tivemos um PIB ridículo de 0,2% anunciado para o 1º trimestre de 2014, em relação ao trimestre anterior. A demanda realmente veio abaixo em setores importantes da atividade econômica, sobretudo naqueles que costumam fazer as maiores pressões sobre os índices que aferem a alta dos preços: serviços pessoais e os referentes ao mercado de trabalho. A renda já sobe muito menos que em passado recente. Associado ao nível de endividamento das famílias e ao crescimento da parcela da renda destinada ao pagamento dos encargos com empréstimos, a demanda arrefeceu. Resta saber se esse arrefecimento pode ser considerado como uma vitória do Banco Central. A questão do crescimento econômico passa a ser central nas preocupações sobre o futuro do país. Francamente a situação é alarmante. O problema da inflação não está resolvido. Ao contrário, são tantas as assimetrias em que os preços relativos se meteram, depois dos artificialismos governamentais que, francamente, continua a alimentar expectativas de um recrudescimento capaz de levá-los, no segundo semestre, acima do teto superior definido para a meta da inflação. Isso tem sido visto como “outro problema”, cuja solução vai sendo deixada para depois. Juros altos atraem os capitais especulativos, apreciam o real e barateiam os preços dos importados. Reduz os preços finais e adiciona o morango sobre o chantilly da competitividade nacional. Tanto é, que a confiança dos empresários está em um dos piores níveis de sua história. O PIB cresceu 1,9% no 1º trimestre de 2014, na comparação com o mesmo período de 2013. Esse resultado mantém o País no mesmo da desaceleração, iniciada no terceiro trimestre de 2013. A indústria teve alta de 0,8% na comparação anual. A agropecuária avançou 2,8% e os serviços 2%. Apenas o consumo do governo ganha velocidade, desequilibrando as contas públicas e condenando o superávit primário a sucessivas reduções. Os investimentos se apresentam em redução de 2,1%, após terem avançado 4% nos três meses anteriores. Não há mais mercado. Sem mercado não há investimentos. O crédito, motor da atividade econômica no governo Lula já não consegue mais crescer e qualquer inciativa nesse sentido irá se encontrar com a alta da inadimplência. Ao brasileiro, fica a pergunta: e onde está o arsenal que o governo anunciou ter para situações como essa?

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Ajustes são possíveis no médio prazo.

Dilemas provocados pela política fiscal
Sob qualquer aspecto que se analise a situação das contas públicas, sobretudo seus agravamentos mais recentes, fica difícil imaginar que os ajustes necessários à recuperação do superávit primário se façam tão cedo. Não se trata apenas de recuperar a austeridade perdida na gestão do custeio público, trata-se, de fato, das restrições impostas pela queda da arrecadação, decorrente do baixo nível da atividade econômica nesse ano e nos próximos dois. Do ponto de vista da aritmética mais simples, o governo precisaria acha uma das muitas combinações possíveis que conciliassem aumento de impostos com cortes de gastos. Na situação atual, analistas esperam por um superávit primário entre zero e 0,5%, sobre o PIB, descontadas as receitas não recorrentes, que definitivamente não deveriam mesmo integrar esse cálculo. Nesse sentido, essas estimativas têm como, politicamente possível, cortes de despesas que não ultrapassariam 1,0% do PIB. Admitida a intenção dos formuladores de política econômica de atingir um superávit primário na ordem de 3,0%, o aumento de impostos precisaria atingir 1,5% adicionais, sobre o mesmo PIB. E isso, exatamente no momento em que as pessoas e as empresas, encontram-se sobrecarregadas com pagamentos de impostos e inconformadas com as reduções qualitativa e quantitativa dos serviços públicos. Melhor e mais realista imaginar que os esforços futuros (após a eleição) tenham essa direção, ainda que não sejam capazes de promover resultados tão favoráveis. Em outras palavras, o superávit primário mais provável não ultrapassaria a casa 2,0%, atingindo um percentual modesto do PIB, ainda assim suficiente para caracterizar uma relação de estabilidade do PIB, mas insuficiente para convencer a comunidade financeira internacional sobre a austeridade requerida por uma política fiscal confiável. O convencimento sobre sua austeridade, o aperto fiscal precisaria ser superior a 1,5% do PIB e decorrente, em sua maior parte, da redução do custeio público, obrigando os gestores ao cumprimento de um novo regramento jurídico, ainda a ser produzido. Remanescerão, nesse quadro, os problemas decorrentes do represamento de preços administrados. As distorções, provocadas pelo estabanamento nas intervenções nesse campo, precisam ser removidas. A regulação não pode se esquecer de dar a esse assunto horizontes claros sobre as forma de proceder a esses ajustes, especialmente no que diz respeito à eletricidade e aos combustíveis. Eleito, o novo Presidente conviverá nessa fase de ajustes fiscais, por um bom tempo, entre os dilemas provocados pela alta inflação, o baixo crescimento, os juros estratosféricos e as pressões sociais de um povo que conheceu os prazeres do enriquecimento rápido e fugaz.

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Consumo em redução

Demanda deve cair ainda mais
Os aumentos de salários são cada vez menores, a inflação rapidamente anula esses ganhos. A taxa de juro, novamente nas alturas, amplia os gastos com pagamentos das dívidas das famílias e torna a parcela destinada ao consumo ainda menor. Esse quadro sinaliza para o aumento da inadimplência e desencadeia um processo de revisão para a concessão de crédito, tornando-o ainda mais seletivo. Setores dependentes de financiamento para suas vendas, como, por exemplo, os setores de móveis, eletroeletrônicos, artigos de informáticas, veículos, etc. deverão apresentar quedas sucessivas de faturamento até pelo menos o final do ano. As previsões da inadimplência já falam em 7%. Com o crescimento muito rápido do crédito imobiliário, a renda também sofreu comprometimento, quer porque uma quantidade grande de famílias, no esforço para aquisição de casa própria, endividou-se (de 2008 até o primeiro trimestre de 2014, o percentual do crédito imobiliário no estoque de crédito para pessoas físicas cresceu de 11% para 28%), quer porque os juros dos créditos direcionados subiram de 7,8% do primeiro trimestre de 2013 para 9,4%, no mesmo período de 2014.
Veja o gráfico abaixo, publicado pela Folha de São Paulo, em 25/05 desse ano, e tire suas próprias conclusões:
Comprometimento da Renda das Famílias
com Encargos de suas Dívidas

terça-feira, 27 de maio de 2014

Commodities



O mercado cambial anda mais acomodado,
nos últimos dias
As notícias chegadas dos Estados Unidos, dando conta da intenção de postergar a alta do juro e de não acelerar o programa de redução dos subsídios da economia do país, fizeram as cotações do dólar ganhar certa estabilidade. Em relação às moedas dos emergentes o dólar voltou a se desvalorizar, especialmente no Brasil onde o real se apreciou  de forma mais acentuada. O momento atual parece ser de certa estabilidade em relação à maioria das moedas no mundo, deixando entrever um horizonte mais previsível nas negociações de divisas. As commodities agrícolas, entretanto, parecem mais suscetíveis aos humores do clima e da relação entre estoques existentes e as pressões atuais da demanda internacional de alimentos. As previsões de mercado estão contando com safras fartas de milho e de trigo nos Estados Unidos nesses próximos meses. Sabe Deus se isso se realizaria, ainda mais sob as ameaças de um ano agrícola marcado pela ira do El Niño. As bolsas de mercadorias estão alardeando suas expectativas otimistas em relação a essa safra e induzem os preços para baixo. Embora no curto prazo a soja possa se apresentar em queda pelos mesmos motivos e agravada pela migração da área plantada do milho para a soja, no longo prazo, os preços devem manter-se em patamares elevados. A produtividade norte-americana não parece ter aumentado e a oferta pode estar sendo superestimada. Petróleo deve recuar também no curto prazo. Os resultados políticos na Ucrânia minimizam os riscos de novas altas. As commodities metálicas apresentam cotações em crescimento, provocando dissabores na indústria mundial. A China foi posta no centro das atenções no que diz respeito aos preços e às quantidades de suas importações dessas matérias primas industriais. Como se espera alguma recuperação da economia chinesa em função de novos estímulos prometidos, em parte já concedidos, o mercado entende que uma temporada de alta nesses preços possa ter maior duração.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Risco e rentabilidade são expressões da ambição humana

Para ganhar muito, o capital se
dispõe a correr riscos curiosos
Até o dia 21 de maio, os estrangeiros aportaram cerca de R$ 10 bilhões na Bovespa, segundo informa o Boletim diário da própria Bovespa. Com os juros nacionais nas alturas e as sucessivas declarações das autoridades monetárias norte-americanas sobre a manutenção da taxa de juros nos Estados Unidos, os investidores olharam para os emergentes com maior complacência em relação a seus fundamentos econômicos. Por outro lado, os preços dos ativos no Brasil estão muito atraentes. 
Ademais, a continuidade da política monetária na Europa e a mera perspectiva de novos estímulos para ampliação da liquidez naquela região trouxe ânimo aos investidores. Tem-se dito muito no Brasil que o crescimento dos candidatos oposicionistas nas eleições presidenciais desse ano também mexeu com os agentes econômicos, na medida em que o país recuperaria um modelo intransigente com a inflação e com as contas públicas. Oxalá, esses capitais estejam certos. Mas investir em ações no mercado brasileiro, seja quem for o ganhador do próximo pleito, é desconsiderar as restrições econômicas do país. Todas as projeções só admitem crescimentos mais expressivos a partir de 2016. Isso expressaria uma visão de futuro com horizontes que não são próprios dos fundos internacionais.

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Inflação dá trégua

A trégua é curta e afeta a criação
de novos postos de trabalho
O arrefecimento da inflação trouxe algum otimismo ao governo e fez crer que os alimentos, sobretudo os produtos “in natura” possam contribuir para a redução da alta dos preços nesses próximos dias. Também são esperadas altas menores no grupo de transportes, em função dos preços de combustíveis e passagens áreas. Empresários, contudo, não acreditam que o problema da inflação está encaminhado de forma positiva. A mera análise do índice de difusão da inflação, hoje na casa dos 70%, aponta para a generalização da alta de preços. Os índices que medem desemprego continuam despertando inveja em qualquer país desenvolvido, sempre apresentando números decrescentes. O mercado de trabalho continua apertado, embora a criação de novos postos, com carteira assinada, apresente-se em queda. Aqui pode estar a grande armadilha para a política econômica desse governo. A confiança de consumidores e a dos industriais, ambas as medidas pela FGV, seguem em queda. Inflação alta e confiança baixa formam um binômio cruel que conduz às baixas taxas de investimentos nesse ano. Portanto, a hipótese de aceleração do crescimento econômico do país fica definitivamente afastada para 2014. Para os empresários voltamos a insistir em uma estratégia financeira austera e em políticas comerciais mais agressivas, mantendo extrema seletividade na concessão de seus créditos e a intensificação de políticas promocionais que possam garantir níveis de atividade empresarial compatível com as dimensões de suas operações. Cuidado com o endividamento e com os custos do capital de giro.

terça-feira, 20 de maio de 2014

Haverá pedras no meio do caminho



A galinha do vizinho
O Mundo não viverá uma fase de mudanças econômicas mais fortes. Portanto, investir no exterior não é alternativa razoável, a não ser para os grandes investidores. De fato, a recuperação da economia norte-americana tem induzido uma grande discussão sobre o ritmo do processo de redução estímulos injetados mensalmente na economia por meio da compra de ativos. Não há no horizonte de curto prazo, nada que indique que o FED venha a subir as taxas de juros de imediato. Os Estados Unidos não estão crescendo em velocidade mais rápida do que em passado recente. Ao contrário, nesse instante, o medo é muito mais decorrente da perda de velocidade do crescimento da economia, do que de um crescimento excessivo e não controlável.
 Por seu lado, a economia europeia desenha, de maneira mais concreta, sua retomada, que, necessariamente, deve ser lenta, embora já se tenha alguns sinais de sua consistência. A Europa parece acomodada com sua baixa inflação e crê que isso será sadio para o sistema econômico, não prejudicando o crescimento, nem pressionando as taxas de juros.
Chineses se adaptam aos novos padrões de crescimento, muito mais modestos do que aqueles de dois dígitos. Portanto, não há grandes razões para ampliar a diversificação dos investimentos pelos mercados emergentes. Assistimos nos últimos dias à fuga de capitais do país em direção a outros mercados. Todos buscavam por riscos menores e maior rentabilidade. Salvo alguma variação cambial, essas expectativas logo estarão frustradas e isso porque as galinhas botam ovos de mesma cor.

sábado, 17 de maio de 2014

Servidor não é filho único



Fim da exclusividade nos consignados
Mais poucos dias e o Banco do Brasil não será o único banco a fazer empréstimos consignados, com desconto em folha de pagamento para os servidores do Estado de São Paulo. Uma perda e tanto para o BB que vinha atuando nesse mercado – uns dos maiores do país em consignados, com o privilégio da exclusividade.
O CADE, no cumprimento de sua missão, entrou em cena, conseguindo acordo no qual o BB deixaria de cobrar a exclusividade de seus clientes, servidores públicos, nos empréstimos consignados.
A intenção do acordo é o de produzir maior grau de concorrência nesse mercado, restando saber se alcançará esse objetivo. Tudo diz que sim.

A semana acaba tristemente

Dados mostram menor crescimento
As vendas do comércio varejista, no conceito de comércio restrito, recuaram 0,5% no mês de março, ratificando a continuidade da desaceleração do consumo nesse ano. Essa queda de faturamento do setor, medido pelo IBGE com o conceito restrito, ou seja; excluindo as vendas de veículos e motos, partes e peças e de material de construção, deixou a certeza de que o PIB será menor que o inicialmente previsto pelos analistas. Mesmo as previsões mais otimistas que esperavam crescimento entre 2,0% e 2,5% passam, nesse momento, por revisões. Agora, os novos números para o PIB de 2014 falam em no mínimo 1,5% e no máximo em 1,7%. Na pesquisa Mensal do Comércio, essa que acaba de ser divulgada pelo IBGE, o comércio ampliado, incluindo as vendas de todos os ramos do comércio, apresentou recuo de 1,1% na margem, após queda de 2,7% registrado no mês anterior. No mesmo sentido, o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) caiu 0,11% em março ante o mês de fevereiro desse ano. Entre janeiro e fevereiro, o indicador revisado registrou alta de 0,02%. O IBC-Br serve como indicador antecedente, fornecendo um bom parâmetro para avaliar o ritmo da economia brasileira ao longo dos meses. Definitivamente a desaceleração impressiona e impressiona tanto mais quanto mais silente e inerte permanece o governo na área econômica.

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Sistema Financeiro (2)

Olhar para dentro, mas olhar para fora também
Economias de escala tem se caracterizado um dos grandes determinantes da competitividade na indústria financeira. Daí porque, tornou-se indispensável crescer em ritmo superior àquele que o crescimento orgânico pode conceder às empresas brasileiras, no setor financeiro. Nesse setor, escalas econômica da operação são um dos requisitos essenciais à competitividade. Nessa linha é interessante notar as estratégias de Bancos como o BTG Pactual e o Banco Safra. O BTG Pactual, segundo o jornal Valor, está negociando a compra do Private Banking suíço BSI, uma entidade secular pertencente à seguradora italiana Assicurazioni Generali. A tentativa é de tornar o banco brasileiro um player expressivo no segmento de wealth management. No mesmo segmento, o Banco Safra já havia adquirido, em 2011, o Banco Sarassin e, recentemente, anunciou a aquisição das operações do banco Morgan Stanley, também na Suíça. É claro que tudo isso tem a ver com o atual questionamento internacional do sigilo dos bancos suíços. Esses questionamentos trouxeram grandes oportunidades. É preciso, entretanto, saber identifica-las e traduzi-las em estratégias adequadas, para aproveitá-las com sucesso. Não basta só olhar para dentro, examinando negócios circunscritos ao território brasileiro.

Sistema Financeiro (1)

Chumbo grosso no mercado de
programas de fidelidade
Bradesco e Banco do Brasil divulgaram a criação de empresa para concorrer no mercado de gestão de pontos de programa de fidelidade.
Livelo será o nome da empresa que deverá buscar por outras organizações com atuação como emissores de instrumentos de pagamento ou mesmo de programas de recompensas. Os concorrentes mais diretos da Livelo são a Smiles e a Multiplus que, por sinal, não conseguem enxergar espaço nesse mercado para a entrada de mais um playerCom espaço, ou sem espaço, a Livela já deu seus primeiros passos e entende o desafio como grande e os concorrentes como competentes. O setor tem um bom desempenho em relação a seus custos de operação e, de fato, o mercado que não chega a ser tão grande, apresenta uma rápida taxa de crescimento.

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Previsões acentuam o pessimismo

Inépcia e marasmo na gestão da economia 
Grande parte dos melhores analistas reconhece existir no horizonte de curto e médio prazo, riscos de redução do nível de atividade econômica. Os argumentos para isso estão sustentados por taxas de juros mais altas, deterioração da confiança de empresários e consumidores, mercado de crédito fraco, restrições ao fornecimento de energia e redução das venda no varejo e no setor industrial.  A economia parece mesmo expandir-se em ritmo ainda mais lento que 2013 e já se ouve falar em crescimento do PIB, para 2014, de até 1,3%. Essas previsões denotam o pessimismo de nossos agentes econômicos e que, agora, se estendem para resto do mundo. Sugere também a necessidade de o Banco Central interromper o ciclo de aperto da política monetária e uma ampliação da tolerância do governo central à inflação. As promessas de novos incentivos referentes à ampliação da oferta de crédito para aquisição de imóveis e de automóveis não deixa de ter aspectos positivos, mas são insuficientes para dar conta do marasmo econômico.

terça-feira, 13 de maio de 2014

Sem otimismos exagerados

Os limites para as altas recentes
da bolsa brasileira
A bolsa voltou a ser, em certa medida, o investimento do momento. Parece ser modismo entre investidores nacionais e estrangeiros. Sobretudo dos estrangeiros que têm contemplado nossa bolsa com volumes substanciais e consistentes de recursos, nos últimos tempos. A percepção de que os preços dos papéis estavam muito baixos, em relação à média histórica, tornou-se questão central nessa alta. Não se trata de melhoria do ambiente institucional, nem tampouco quaisquer expectativas sobre crescimento de lucros, numa economia anêmica, como a atual. Há quem goste de ver no processo eleitoral, cada vez mais complicado, as razões para esses movimentos dos preços, esquecendo-se que, ganhe quem ganhar, os ajustes econômicos serão inevitáveis e devem trazer no seu bojo mais recessão ,e portanto, maiores  reduções dos lucros atuais. Esse cenário apenas agrava a relação preço/lucro e embute algum risco de quedas, talvez abruptas, à frente. Mas, ao se falar em aplicações em renda variável e buscando errar menos, é sempre conveniente lembrar os muitos ângulos desse investimento. Veja-se que, por outro lado, os ajustes trazem também uma recuperação da melhoria das políticas macroeconômicas e, com elas, as expectativas impulsionam uma nova precificação dos ativos. Difícil saber o que pode acontecer com bolsa no curto e no longo prazos, as incertezas são muitas e os riscos se exponencializam. Melhor subir no muro.

Quadro fiscal limita crescimento

A despeito dos avanços regulatórios, investimentos ressentem da baixa poupança.
texto de Roberto Padovani,
economista chefe da Votorantim Corretora
Quadro fiscal compromete quadro econômico. A economia brasileira apresenta nos últimos meses uma combinação de alta inflação, baixo crescimento, alta da taxa de juros e piora em contas externas. Vários fatores explicam este desempenho, mas o comportamento das contas públicas parece ser o denominador comum.
Economia brasileira demanda novos investimentos. Após o forte ciclo de expansão recente, a economia brasileira não apresenta mais sobras: a escassez de mão de obra e a limitação da capacidade produtiva restringem o crescimento. Estes limites estruturais ao crescimento têm gerado pressão inflacionária, deterioração das contas externas e, como resultado, alta da taxa de juros. A saída natural para este ambiente adverso seria o aumento da produtividade da economia por meio do aumento dos investimentos e/ou qualificação da mão de obra. E aqui estão os problemas, uma vez que os investimentos mostram estagnação.
Financiamento dos investimentos é restrição. Um dos problemas para se aumentar os investimentos no país está no lado do financiamento. A escassez de poupança doméstica exigiria um uso mais intenso da poupança externa, o que talvez não seja factível em um ambiente de maiores incertezas em relação às condições globais de liquidez.
Estabilidade e previsibilidade das regras econômicas também importam. Além das restrições no uso de poupança doméstica e externa, o lento avanço do quadro regulatório e do ambiente de negócios limita as opções de investimento no país, principalmente em infraestrutura. Contribui para isso a piora na percepção e previsibilidade das regras econômicas, reduzindo a confiança no futuro. Diante das dificuldades no processo de concessões em infraestrutura, uma agenda mais realista tem sido seguida, criando melhores condições do ponto de vista de regras que atraiam o investimento privado. O melhor indicador é que o cronograma de concessões passou a caminhar nos últimos meses, ainda que de modo atrasado e lento.
Padrão fiscal atual desestimula a poupança. Se, por um lado, o país caminha no sentido correto, construindo uma agenda econômica baseada no investimento privado em infraestrutura, a questão fiscal permanece indefinida e dificulta a recuperação da poupança. O padrão fiscal atual do país – que, entre outras coisas, pressiona desproporcionalmente os gastos com seguridade social e não atua de maneira anticíclica – não somente aumenta a “despoupança” pública, mas desestimula a poupança privada. O país se ressente de avanços institucionais adicionais que limitem a expansão dos gastos e elevem a transparência e o comprometimento com metas. Uma melhoria do quadro institucional na área fiscal poderia permitir não apenas um melhor ambiente de negócios, com menores taxas de juros e um sistema tributário de melhor qualidade, mas fundamentalmente daria os incentivos corretos para a consolidação da poupança privada.