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domingo, 6 de maio de 2012

Por que o dólar se valorizou?

A valorização é um bom ou mau sinal?
Fica difícil dizer. Talvez seja sinal dos tempos, apenas.
A deterioração do mercado europeu pôs em questão o risco dos países emergentes, com ênfase no mercado brasileiro que, nesse momento, vive mais uma de suas criativas experiências econômicas.
Engendrada nos  laboratórios experimentais do Banco Central e do Ministério da Fazenda, as novas políticas monetárias que privilegiam o crescimento e abrandam os objetivos do controle da moeda nacional, dão curso às tentativas de redução das taxas de juros. De início, realmente os juros caíram e há razões para acreditar que, no curto prazo, pelo menos, os propósitos governamentais serão bem sucedidos.
Nos fluxos de moedas internacionais, contudo, o saldo anual positivo desapareceu. Até o mês de março, o país havia acumulado valores expressivos nos influxos de capitais. Em abril, esse saldo ficou zerado. São capitais estrangeiros batendo em retira, de volta aos seus países de origem, em função do agravamento da crise internacional patrocinado pela Europa e dos diferenciais entre as taxas de juros nacionais e internacionais que  minguaram a partir da redução da Selic.
Eis como pode aparecer, pela primeira vez em muitos anos, a dificuldade para financiar os déficits de nossas contas externas. E eis, de igual maneira, como poderão surgir, com maior gravidade, novos obstáculos para girar a dívida interna, com a captação dos títulos públicos desestimulada pela redução das taxas de juros.
Começo a supor que a taxa cambial brasileira venha mesmo a atingir os R$ 2,00 por dólar, até o final do ano. Nesse andar da carruagem econômica brasileira, a captação de recursos externos por bancos e empresas nacionais pode cair de forma abrupta e, se não socorrida por investimentos externos diretos, é de se esperar por resultados contundentes, na balança de pagamentos, em prazo relativamente curto.
A bolsa, que no acumulado de abril apresentou-se com um fluxo praticamente zerado, envia-nos o primeiro aviso. O segundo vem das aplicações estrangeiras em renda fixa, notadamente em papéis representativos da dívida oficial. Bem verdade que o governo ainda conta  com a possibilidade de isentar esses investimentos do IOF de 6%, em empréstimos externos inferiores a 5 anos, e recuperar a competitividade dessas aplicações. Seria uma nova mudança nas regras, conturbando, mais uma vez, o já atrapalhado mercado financeiro para aplicações no Brasil, aparentemente salvo com o providencial ajuste da semana passada.
Também não convém suoestimar o prazo para que as recentes medidas econômicas façam efeito. Não é de acreditar que empresários reajam de imediato aos incentivos governamentais. Tomarão algum tempo para se convencer, após tantos anos de descaso com a política industrial, que a partir de agora é “pra valer”. A decisão de voltar a investir será postergada até que as expectativas de longo prazo sejam revisadas. Enquanto isso, os investidores estarão se equilibrando em cima dos muros que galgaram nesses anos de crise no mundo. Também, não será possível imaginar que  a depreciação do real venha produzir a imediata recuperação dos compradores de produtos nacionais. Esse será um trabalho árduo de reconquista de mercado e que só aparecerá mais tarde, quando o exportador brasileiro convencê-los de que suas ofertas serão mantidas no tempo.
Os mercados já enviaram suas mensagens, sinalizadas em números que podem minar as intenções das autoridades econômicas. Pior será ainda  se  a inflação mostrar suas garras. O que faremos? Subiremos os juros outra vez ou o governo pretende endurecer fortemente sua política fiscal? Há sempre a chance de reduzir os ganhos reais do trabalhador e com isso arrefecer a demanda. Ou ainda, voltar a apreciar o real para contribuir no combate a uma futura escalada dos preços. E se os bancos pequenos e médios começarem a estourar, subtraídos de suas margens e engolidos pela inadimplência dos mercados que frequentam? O Governo promoverá um novo Poer? Justo ele, que combateu tanto esse programa?

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