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terça-feira, 25 de outubro de 2011

Agência Leia

Recapitalização dos bancos
Veículo: Agência Leia  -  Data: 14/10/11
PERSPECTIVA MUNDO: Recapitalização de bancos europeus é parte de solução
São Paulo, 14 de outubro de 2011 - A recapitalização dos bancos da eurozona não deve ser a ideia central dos líderes europeus para solucionar a crise da dívida soberana e restruturar o setor bancário da região. A análise é de especialistas entrevistados pela Agência Leia, que afirmam que os países membros devem manter a soberania, mas garantindo a recapitalização e supervisão de todos os bancos de importância sistêmica.
No dia 9 de outubro, a chanceler da Alemanha, Angela Merkel e o presidente da França, Nicolas Sarkozy, anunciaram a determinação de ambos os países em apoiar uma recapitalização dos bancos da região e pediram uma "rápida ratificação" do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (EFSF, na sigla em inglês) por todos os membros da zona do euro. Na última quarta-feira, o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso, afirmou que a recapitalização dos bancos europeus faz parte de um plano para chegar ao fim da crise de dívida europeia, que deve ser apresentado na reunião do dia 23 de outubro, com os ministros das Finanças da eurozona. Segundo Barroso, o plano deve dar uma resposta decisiva e clara aos problemas enfrentados pela Grécia, além de tomar medidas urgentes para fortalecer os bancos da região.Neste contexto, o analista da consultoria britânica CreditSights, John Raymond, afirma que uma recapitalização súbita e forçada não deve ser tomada como medida principal para solucionar a crise dos bancos da eurozona.
"Não se pode simplesmente recapitalizar todos os bancos e esperar que o problema se resolva. Além disso, é difícil calcular a quantidade de capital necessária", diz. Ele acrescenta que embora, a carteira de crédito de alguns bancos fique melhor com o acúmulo de mais ativos, a real causa da crise financeira é a falta de confiança na qualidade final dessas carteiras, e cita a expansão do EFSF,o fundo de resgate criado para ajudar países da eurozona com problemas financeiros, como medida necessária. "Colocar mais capital nos bancos não é o suficiente, é preciso um conjunto de medidas para recuperar a confiança do investidor", reforça.
Para o diretor do instituto de pesquisas European Centre for International Political Economy (ECIPE) Fredrik Erixon, a recapitalização é apenas um ingrediente para começar a resolver as dificuldades atuais e este é apenas um dos problemas a serem tratados.
Erixon também acredita que uma série de medidas devem ser combinadas à recapitalização, como um modelo mais honesto e aberto de teste de estresse do setor bancário e ações que levem a dívida soberana a um caminho sustentável. "Além disso, o Banco Central Europeu (BCE) precisa oferecer proteção para grandes economias, que agora também estão com mercados turbulentos. Se essas medidas forem feitas de forma coordenada, o investidor terá mais confiança e os bancos melhorarão", acrescenta.
Embora as notícias sobre o apoio da Alemanha e França para a recapitalização dos bancos da eurozona tenham tranquilizado o mercado, é preciso uma expansão do EFSF e medidas de caráter fiscal, segundo Celso Grisi, diretor presidente do Instituto de Pesquisas Fractal. "A realidade é que o socorro será aprovado pelas outras autoridades europeias do jeito que está porque, na visão deles, a outra saída seria a crise", explica. "No entanto, no longo prazo, a solução é colocar os orçamentos dos países mais problemáticos em ordem, diminuir os déficits públicos. O difícil é a equação: aumentar o orçamento e fazer cortes em um continente que não aceita nenhum tipo de redução em investimentos ou alteração em benefícios sociais", completa.
O diretor da ECIPE reafirma que a recapitalização não ajudará os bancos no longo prazo. "As medidas de longo prazo devem ser tratadas no Basileia 3 e na nova diretriz de exigência de capital esperada em breve. Agora só se pensa em resolver as coisas no curto prazo".
DEXIA
O banco franco-belga Dexia é a vítima do setor bancário mais recente. A instituição alega "problemas estruturais", com 20,9 bilhões de euros em títulos da dívida soberana da Grécia, Itália e outros países endividados. No dia 10 de outubro, o conselho de diretores do Dexia, na tentativa de resgatara instituição, anunciou a venda da unidade belga a para o governo da Bélgica, no valor de 4 bilhões.
Questionado sobre as possibilidades de outros bancos europeus apresentarem os mesmos problemas do Dexia, Raymond, da CreditSights, garante que o banco é uma situação incomum. "O Dexia é um banco que sempre precisou de ajuda de fundos no curto prazo e sempre dependeu demais do BCE. O banco central poderá o ajudar para sempre", afirma. Ele acrescenta que o governo europeu já tinha apoiado o Dexia em 2008 e que a situação do banco não foi provocada pelas condições atuais do mercado, mas sim pela forte exposição à crise da dívida da eurozona, sua dependência em fundos e sua baixa taxa de capital. "O Dexia é exceção. No entanto, as autoridades têm a difícil tarefa de isolar esse caso para conter o contágio aos outros bancos".
Erixon acredita que os outros bancos podem "quebrar" como o Dexia, se os países não controlarem suas dívidas públicas e ameaçarem aplicar o calote."Neste cenário, eu diria que existem cerca de 20 a 30 bancos na Europa que precisam recapitalização a um nível significativo".
O caso do Dexia ainda levantou dúvidas sobre a credibilidade e utilidade dos chamados teste de estresse do setor bancário, uma vez que a instituição foi considerada segura no último exercício, em julho deste ano, ficando em 12 lugar e projeção de 10,4% de Capital Tier 1 (medida de saúde financeira de um banco) em 2012. Mas Raymond afirma que as deficiências do setor bancário não podem ser atribuídas ao teste de estresse. "O teste não é uma perda de tempo, ele proporciona infraestrutura e ferramentas para resolver os problemas, mas elas têm de ser aplicadas corretamente pelas instituições", completa.

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