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sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Câmbio, outra vez

Tendência é de fluxo cambial negativo
até o final de 2011
Veículo: DCI   -   Data: 10/11/11
Para especialistas, retirada de US$ 134 milhões no mês passado é resultado da crise internacional e da percepção de risco no mercado doméstico
O Banco Central (BC) divulgou ontem que o fluxo cambial registrou saída líquida de US$ 134 milhões em outubro. Trata-se da primeira retirada de dólares desde junho deste ano, quando US$ 2,55 bilhões saíram do País.
Em outubro, o fluxo financeiro — que inclui os investimentos estrangeiros diretos e os recursos para aplicações financeiras, além das remessas de lucros e dividendos e empréstimos tomados no exterior — registrou saída de US$ 2,002 bilhões. De acordo com o Banco Central, a retirada de recursos foi gerada porque as transferências para o exterior somaram US$ 29,268 bilhões e foram superiores aos ingressos no período, de US$ 27,266 bilhões.
Já a conta comercial acumulou entrada líquida de US$ 1,868 bilhão no mês passado. A explicação da autoridade monetária é que o resultado foi devido aos contratos de câmbio para exportação que somaram US$ 21,552 bilhões e foram maiores que os US$ 19,684 bilhões obtidos com as importações.
Com relação à conta comercial, na qual são fechados os contratos de câmbio para operações de exportação e importação, houve o ingresso de US$ 1,86 bilhão no País no décimo mês de 2011. A explicação é que, com a subida da cotação do dólar, exportadores podem ter aproveitado para "internalizar" os recursos e obter mais reais.
O diretor-presidente do Instituto de Pesquisa Fractal, Celso Grisi, entende que a saída de dólares do mês passado foi devido à retirada de empresas com sede no exterior impactadas pela crise internacional. E porque há uma percepção de risco no cenário da crise. "Outubro foi um mês conturbado, por causa da turbulência em países europeus e porque houve uma desconfiança dos investidores no controle da inflação brasileira. E se aumentar a pressão inflacionária, que está na casa dos 6,60%, é possível que ocorra uma desconfiança ainda maior", esclarece.
Na opinião do professor de Economia do curso de Administração da ESPM, José Eduardo Balian, o fluxo cambial de outubro foi pontual. Segundo ele, há uma influência da crise externa para ocorrer a necessidade de retirar dinheiro do Brasil. "Contudo, o impacto do cenário internacional ainda é uma marolinha no Brasil", diz.
No ano
Com a inércia de outubro, o fluxo cambial permaneceu negativo na primeira semana de novembro. O período entre os dias 1º e 4 deste mês registrou saída líquida de US$ 36 milhões. O fluxo financeiro na primeira semana ficou negativo em US$ 233 milhões, decorrente de vendas de US$ 3,693 bilhões e compras de US$ 3,460 bilhões. Já o fluxo comercial foi positivo em US$ 197 milhões (US$ 2,437 bilhões de exportações e US$ 2,240 bilhões de importações).
Porém, de janeiro a novembro, até o dia 4, o fluxo cambial é positivo em US$ 68,128 bilhões, o que mostra que mesmo com o resultado de outubro ainda há mais entrada, do que retirada de dólares do País.
Essa parcial do ano representa um crescimento de cerca de 180% comparado ao registrado em todo o ano de 2010 (US$ 24,35 bilhões). Por enquanto, esse saldo é o segundo maior da história, a perder apenas para 2007, que registrou de janeiro a dezembro ingresso de US$ 87,45 bilhões.
Tendência
Os especialistas divergem sobre a tendência para o fluxo cambial e seu impacto no câmbio. Para Balian, depende muito do que irá acontecer com a Europa. Ou seja, qual solução para o endividamento grego e de outros países, como a Itália.
O professor da ESPM acredita que haverá uma menor entrada de dólares no País, nos próximos meses até pelo menos o primeiro semestre de 2012, em função de menores condições financeiras de estrangeiros de ampliar investimentos e pela queda na venda de commodities pelo Brasil. "No caso das saídas, é prematuro fazer projeções. Primeiro, porque a taxa de juros (Selic) é uma das mais altas do mundo. Mesmo que caia para 9% em 2012, que é possível, ainda vai ser atrativo", complementa Balian. Atualmente, a taxa básica de juros está em 11,50%.
Neste contexto, ele observa que o câmbio vai ter oscilações, mas vai ficar por volta de R$ 1,65 por dólar.
Por outro lado, Grisi prevê que haverá uma continuidade de retiradas da moeda americana, por causa da sazonalidade do final do ano. "A demanda gerada pelas festas do final do ano fazem com que a indústria tenha que elevar as importações. Além disso, vai ocorrer o fechamento dos balanços fiscais das empresas. Desta forma, muitas terão que enviar lucros e dividendos para suas matrizes, o que provocará esse fluxo negativo no Brasil", diz. "Contudo, essas saídas não devem ser tão expressivas quanto foi em outubro", acrescenta.
Neste quadro, diferentemente de Balian, o diretor-presidente da Fractal espera que o câmbio deve chegar na casa dos R$ 1,90 por dólar em dezembro.
Segundo o boletim Focus, do BC, o mercado projeta que o câmbio irá fechar em R$ 1,75 ao final de 2011, mesmo patamar aguardado em dezembro de 2012.

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