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segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Rio, seu carnaval, seus poetas

Um reencontro com a alma
de sua cidade
Reinterpretar a realidade social parece ser uma fórmula mágica para produzir sucesso e aceitação dos melhores artistas. Para citar apenas os meus preferidos, foi assim com Machado de Assis, Noel Rosa e Chico Buarque. Entretanto, reinterpretações devem ter almas. Quando obedecem aos estreitos e precisos parâmetros das ciências, são profundamente úteis e chatas. Ao trazer sentimentos e afetos juntos, com as necessárias porções da razão e de outras imperfeições humanas, consagram obras e pessoas. Noel, morto em 1937, por uma tuberculose bem cultivada nas noites cariocas, aos 26 anos, marcou a poética brasileira por seu gênio lírico, às vezes crítico e por todos os traços de seu estilo requintado, coloquial e reflexivo. Irônico, bem-humorado, outras vezes apenas satírico, Noel consagrou um gênero de samba lento e melódico. Erudito na forma, coloquial na temática e com desfechos que podiam embutir lições amargas da vida ou reflexões e arrependimentos sobre comportamentos e pessoas.
Noel Rosa, nascido em 1910, trouxe- nos à lembrança, pelas comemorações do centenário de seu nascimento, alguns outros grandes nomes da música popular brasileira, de modo geral, contemporâneos seus de Rio de Janeiro, como João de Barro, Lamartine e Ary Barroso. Trouxe-nos também a nostalgia dos bares e cabarés cariocas, da vida boêmia do botequim e das rodas de samba. Trouxe-nos, por fim, a melancolia da destruição da beleza da vida social carioca, substituída pela violência e outras mazelas.
O carnaval, com sua espontaneidade industrializada e comercializada em massa, tira o bezerro de cena e traz nossas melhores cervejas para garantir o sucesso da festa. Na Marquês de Sapucaí, hoje, 2ª feira, esse carnaval homenageia Noel. Justa homenagem. Faz pensar que ao resgatar o compositor, o carioca quer mesmo é resgatar seu passado e a genuína alma carioca. Como a de Noel, maravilhosa e imperfeita.

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