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domingo, 3 de janeiro de 2010

Internacionalizar a que custo?

A internacionalização das empresas brasileiras: paradoxo, utopia e estratégias
por Celso Cláudio de Hildebrand e Grisi
2009 - Gazeta Mercantil
A discussão sobre internacionalização de empresas brasileira evolui, com freqüência, para o exame das possibilidades que essas empresas tenham para conseguir colocar seus produtos no exterior e, portanto, de se tornarem empresas exportadoras. O esforço nessa discussão é o de encontrar o conjunto das condições necessárias e suficientes para que as empresas nacionais consigam colocar seus produtos e serviços lá fora. De modo muito geral, e sempre animado pelos melhores propósitos de aumentar nossas vendas ao no mercado externo, de melhorar os resultados de nossas contas externas e, sobretudo, de induzir o crescimento econômico nacional - com a conseqüente ampliação da oferta de empregos e da melhoria da remuneração do trabalhador brasileiro-, o raciocínio acaba privilegiando as pequenas e médias empresas brasileiras.
As soluções apresentadas vão desde a simples nomeação de agentes comerciais, representantes, distribuidores, passando pela participação em feiras e exposições, organização de road shows, utilização de comerciais exportadoras e de tradings company, até a formação de consórcios, ou a construção de pool de exportadores em determinados setores econômicos desembocando na construção de arranjos industriais - como os chamados clusters ou, ainda, na formação de cadeias produtivas, articulando seus players para promover novos ganhos de produtividade. Enfim, um conjunto de estratégias já consagradas desde a década de 70, marco do primeiro esforço exportador organizado na história econômica recente brasileira.Mais do mesmo? Em alguma medida, sim! E, inegavelmente, com resultados positivos, mas limitados às atividades ainda poupadas dos movimentos globais.
Ao se analisar os setores, cujos processos de internacionalização são mais intensamente globalizantes (indústrias farmacêutica, automotiva, petroquímica, aeroespacial) a lógica para o sucesso no mercado internacional é bem outra. Exportar não é mais uma fase da internacionalização.
Antes, a internacionalização é um pressuposto para a exportação. Nesses setores, não se ganha mais escala econômica no mercado interno para exportar excedentes, tornados competitivos pela redução dos custos médios, decorrentes da ampliação das vendas no mercado nacional. O mercado interno é muito estreito para isso. A escala requerida à competição global pressupõe quantidades várias vezes maior do que aquelas que o mercado nacional é capaz de oferecer. Prioritariamente, as escalas são ganhas no mercado internacional e isso torna a empresa competitiva no mercado local. O novo caminho diz que a empresa nacional consegue impor-se no seu país de origem, porque, antes, se impôs no mercado global.
A lógica do mundo econômico não mudou, o quê parece ter mudado nesses últimos anos foram as estratégias para as organizações alcançarem o sucesso no mundo global. E é por isso que o mais do mesmo, como estratégia de internacionalização, não trará eficácia maior a esse esforço.
Ao propor a participação de uma empresa no mercado internacional, certamente se estará propondo um aumento dos riscos de suas operações, em um cenário de maior competitividade e, portanto, de menor remuneração. Afinal, o cenário internacional está marcado por imprevisibilidades sempre maiores que aquelas associadas ao mercado interno. Variáveis políticas, econômicas, regulatórias são, no mercado internacional, sempre em número superior àquelas existentes no mercado nacional. Suas volatilidades são claramente maiores e os impactos de suas variações sobre essas organizações são ainda mais contundentes. Trata-se de variáveis incontroláveis, de difícil previsão, e que estão a solicitar das empresas, em seus países de origem, vantagens comparativas e competitivas suficientemente estabelecidas para dar ensejo ao convívio bem-sucedido dessas empresas nesse cenário turbulento e arriscado. Por outro lado, competitivo como é, esse mercado apresenta-se sempre com preços bastante deprimidos, exigindo esforços continuados de ampliação da produtividade nas áreas de produção e distribuição.
Insistir apenas nas práticas anteriores traz para as empresas nacionais, em suas fases iniciais de internacionalização, um paradoxo inevitável e imobilizador desse processo, pois lança nossos capitais à assunção de riscos cada vez maiores, para usufruírem de remunerações cada vez menores. Isso, ainda que possa parecer apenas mais uma das muitas contradições existentes no bojo do sistema capitalista, na verdade implicaria na sua negação definitiva.

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