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quarta-feira, 6 de outubro de 2010

CELSO GRISI fala sobre economia na Europa - 5XPetróleo - Matheus Franco

Na entrevista, o professor fala sobre a situação econômica da Europa, especialmente da Alemanha, que demonstra surpreendente recuperação e impulsiona a zona do Euro.
1X A Europa vem enfrentando uma situação econômica complicada, agravada pela crise em países como Grécia, Portugal e Irlanda, mas demonstra sinais de recuperação. Qual o panorama atual da zona do Euro?
A recuperação europeia vem de um fato engraçado. A Europa não fez a opção por estímulos ao consumo, embora tenha mantido a taxa de juros baixa, mas passou a entender que o importante seria aumentar a taxa de investimento. Aliás, isso está muito em linha com o pensamento de especialistas ingleses, franceses e alemães. Se pegarmos o economista inglês Stuart Mill, veremos que ele sempre teve como observação que as crises se combatem com maiores investimentos governamentais e públicos.
Foi o que a Alemanha fez fortemente, para garantir nível de emprego. A França também, de uma maneira mais acanhada e agora, a Inglaterra, que retomou, com o novo governo, essa política de contenção de custos para liberar recursos do orçamento fiscal e dirigí-los aos investimentos de maior expressão e que mais empregassem mão de obra. A Alemanha, além disso, tem uma capacidade produtiva muito grande e fornece muitos equipamentos relacionados aos bens duráveis e industriais. Com a desvalorização do euro provocada pela crise, sobretudo da Grécia, mas também de Portugal, Finlândia e outros, a moeda sofreu um rebaixamento muito grande com medo do contágio. Com essa queda foi possível aos países mais competitivos alavancarem as exportações.
2X Dentre os países europeus, o que mais impressiona em termos de recuperação é a Alemanha, com um crescimento jamais visto, desde a reunificação. Qual a importância da economia alemã para a zona do Euro?
A Alemanha é a grande locomotiva do euro. Dentro dos países da zona, o país é maior Produto Interno Bruto disparado. O PIB vem não só da produção em volume, mas do valor agregado da sua produção. Os alemães agregam valor muito fortemente em função da intensidade tecnológica da produção. Embora tenha uma produção agrícola interessante, sobretudo com lácteos e alguns grãos, isso representa uma parcela pouco substancial do PIB. Diferentemente da França, que possui uma participação maior no agronegócio. A Inglaterra é, basicamente, a potência industrial dos séculos XVIII e XIX e ainda mantém áreas como a aeroespacial e algumas de competência muito grande e expressiva.
3X O que o crescimento econômico da Alemanha no segundo trimestre - da ordem de 2,2% sobre o primeiro - pode significar para a recuperação da Europa?
Em primeiro lugar, à medida que aumentam as exportações, começam a crescer salários e oferta de empregos. A Alemanha tem uma área extensa de fronteira com a França e quando a economia alemã se recupera puxa também a recuperação em nível de emprego e de renda do país vizinho. Então, é possível que o caminho seja esse. Cresce primeiro a Alemanha, a Inglaterra passa a acompanhá-la e, de forma um pouco mais lenta, a França se beneficia dos dois para ir na esteira, como fornecedora de matérias-primas, parte de peças e subsistemas e componentes. É provável até que, daqui para frente a gente assista, se não houver nenhum buraco em outros países no Norte e no Leste Europeu, a economia europeia começando a sair dessa situação numa velocidade maior que a americana.
4X A China passou oficialmente o Japão como a segunda maior economia do mundo, atrás apenas dos EUA, que passa por momento de recessão. Pode se esperar uma ameaça real da China à soberania norte-americana, num futuro próximo?
Ainda não. A China tem vivido com um modelo criativo e interessante. Mas, para ela chegar a um preço correto tem que valorizar o yuan em 40%, o que significa uma redução expressiva da produção. Se a moeda for para o lugar onde deveria estar, o PIB arrefece e o Japão volta a subir ao segundo posto. O grande importador da China são os EUA. Se os norte-americanos “tirarem o pé”, o PIB chinês também padece. Deve se manter um equilíbrio, porque os países, em geral, vão precisar da capacidade de compra chinesa e não é interessante que os EUA arrefeça agora sua política monetária.
5X O crescimento agregado dos 16 países da zona do euro registrou 1% no segundo trimestre. Como a recuperação europeia, mais especificamente da Alemanha no momento, pode impactar no Brasil?
Nas exportações estamos vivendo dos commodities metálicos, agrícolas e dos metais não-preciosos, principalmente enviado à Ásia, liderada pela China. Mas a recuperação alemã e dos EUA, ainda que lenta, trazem uma mudança na pauta de exportações brasileira, porque eles são importadores, sobretudo, de produtos com maior valor agregado. Então, começam a importar manufaturados e semi-manufaturados e revertem a tendência nacional de viver apenas dos produtos básicos e commodities. Isso quer dizer, para o Brasil, maior valor agregado da exportação, melhores salários que podem ser pagos no país e exportação de tecnologia maior. Isso melhora muito a nossa balança comercial.

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