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domingo, 3 de outubro de 2010

Câmbio no Brasil: uma temática recorrente

REAL x DÓLAR: Quem vence esta disputa?
Veículo: Portal Último Instante   -   Data: 01/10/10
Priscila Dadona - www.ultimoinstante.com.br
O professor Celso Grisi conversou com o Último Instante sobre câmbio flutuante, capitalização da Petrobras e elevação do IOF para conter a escalada do real.
A crescente queda do dólar que em setembro chegou ao menor nível em dois anos (R$ 1,692) e, no ano, acumula desvalorização de 3,01% faz com que a equipe econômica volte a cogitar medidas para impedir a sobrevalorização do real. Entre as possíveis mudanças está o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre a entrada de capital estrangeiro para investimento em renda fixa e renda variável e a realização de swap cambial reverso. Atualmente, o imposto está em 2%.
Além disso, o Banco Central (BC) intensificou as compras de dólar no mercado à vista e, desde o dia 8 de setembro vem realizando, quase que diariamente, dois leilões por dia.
Segundo o diretor presidente do Instituto de Pesquisas Fractal, Celso Grisi, a taxação do IOF é um forma de impedir o capital estrangeiro indesejável, mas não é única. "Ter uma política industrial através da qual se eleja setores estratégios para a economia nacional levaria estes setores a uma modernização absoluta usando os dólares que entram em excesso no país".
O professor Grisi conversou com o Último Instante e falou sobre câmbio flutuante, capitalização da Petrobras e elevação do IOF para conter a escalada do real.
Último Instante - O dólar está em queda não só em relação real como também ante outras moedas. Qual seria a principal causa desta desvalorização?
Celso Grisi - Desde a implantação do regime de câmbio flutuante vínhamos como uma razoável defasagem cambial. Mas, isso se agravou na medida em que o Brasil começou a se tornar um player com bons fundamentos econômicos e a atrair investimentos estrangeiros diretos. Com esse patamar a que elevamos os juros (hoje a Selic está em 10,75%), comprar aqui titulos públicos se tornou um grande negócio.
UI - O regime de câmbio flutuante é ruim para o País então?
Celso Grisi - Ao contrário. O regime de câmbio flutuante é bastante positivo, pois inspira uma grande confiança do mercado internacional no país.
UI - Este recurso que o senhor chama de capital especulativo não é interessante para o País?
Celso Grisi - Este é um capital complicado porque ele é totalmente descompromissado. O investidor vem para o País 'frita o pastel' e o leva embora. É uma operação que não traz benefícios para o País, ao contrário, pode promover ou caracterizar uma corrida cambial.
UI - Como combater esta entrada de capital?
Celso Grisi - Não tem outro jeito, tem que aumentar o IOF.
UI - Esta seria a única alternativa?
Celso Grisi - Não, outra forma de combater essa alta excessiva é ter uma política industrial elegendo setores estratégios para a economia nacional. Abriríamos um grande programa de importação para estas indústrias de máquinas, equipamentos e tecnologia de tal fomar a levar este grupo de setores a uma modernização absoluta. Claro que dispenderíamos uma montanha de dólares. Os dólares que entram em excesso no país poderiam achar uma forma de sair daqui. Faríamos uma combinação entre entradas e saídas, sempre privilegiando as melhores entradas e garantindo saídas que pudessem construir, no longo prazo, uma sólida política industrial. Tornaríamos o país extremamente competitivo.
UI - O que é preciso para isso ocorrer?
Celso Grisi - Para isso seria necessário uma boa visão de política industrial, porque senão podemos criar novos cartéis, o que não interessa em nada ao País.
UI - Falando em grandes capitalizações, como a promovida recentemente pela Petrobras. O que o senhor pensa disso?
Celso Grisi - Isso é fantástico. Tirando de lado as disputas partidárias que são apenas episódios de uma novela, é relevante trazer dinheiro como este para o País, pois fortalece uma empresa tão importante como a Petrobras e leva o Brasil a uma liderança incrível no mercado dessa commodity.
UI - Mesmo diante desta megaoferta (estatal captou mais de R$ 115 bilhões), a equipe econômica veio a mercado e anunciou que vai "comprar tudo" numa tentativa de barrar a valorização do real. Na sua opinião, o governo tem cacife para conter esta enxurrada de dólares para o País?
Celso Grisi - Não, a desproporção é imensa. Quando se tem especulação de moeda provenientes de compras de ações, em ofertas como esta, o volume é absolutamente de dólar e maior que quaisquer reservas ou Fundos Soberanos. Nenhum governo nunca ganhou numa corrida contra especuladores ou investidores no mercado internacional. Está aí o Japão, como exemplo.
UI - A solução seria?
Celso Grisi - Aumentar o IOF por um lado e, por outro, baixar a atratividade do País baixando os juros. E contigenciar moderadamente o crédito para garantir a inflação no centro da meta.
UI - O senhor fala em cortar crédito?
Celso Grisi - Não falo em cortar, mas enxugá-lo e encurtar prazos. Reduzir seletivamente  créditos que não são benéficos à economia. Crédito ao consumo, como carnês ou o crédito direto ao consumidor ou mesmo os ligados cartão de crédito deveriam sofrer reduções em seus prazos.
UI - Para a exportação brasileira voltar a ser competitiva, qual deveria ser o patamar do dólar?
Celso Grisi - Deveria sair de R$ 1,70 e voltar a R$ 2,50 para que o País voltasse a ser competitivo.
UI - Até o final do ano, o senhor acha que o dólar deve continuar neste patamar entre R$ 1,70 e R$ 1,75?
Celso Grisi - Se a gente não mexer, tende a cair mais um pouco porque nem o Fundo Soberano e nem o Banco Central (BC) vão aguentar. Para que não haja isso há que se tomar as medidas necessárias. O governo Lula não mexeu porque o time estava vencendo.
UI - Isso vai ser um desafio para o próximo governo?
Celso Grisi - A primeira coisa é colocar as contas públicas em ordem chegando ao superávit nominal, sem mexer no regime de câmbio flutuante. E também baixar os juros, o que é um consenso nacional, e aumentando a alíquota do IOF, no curto prazo. Com essas medidas abre-se espaço para a moeda se desvalorizar.

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