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quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Tesouro vem em reforço à atuação do Banco Central

Tesouro poderá comprar até US$ 10,7 bilhões
Veículo: DCI  -  Data: 07/10  -  Fernando Teixeira
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CÂMBIO
SÃO PAULO - O governo anunciou a segunda medida para conter queda do dólar e analistas não descartam novas ações. Na terça-feira, o Conselho Monetário Nacional (CMN) aprovou, em reunião extraordinária, alteração do prazo para a contratação das operações de câmbio. A resolução ampliou o prazo para compra antecipada de dólares para dívidas de 750 dias para até 1.500 dias. A medida cambial amplia para US$ 10,7 bilhões o potencial de compra de dólar pelo Tesouro Nacional.
Na segunda-feira, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou o aumento de 2% para 4% da alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para as aplicações de estrangeiros em renda fixa. As medidas parecem ter surtido efeito, pois a moeda norte-americana valorizou-se no fechamento de ontem. O dólar comercial foi vendido por R$ 1,6820, em alta de 0,42%. No ano, o dólar acumula baixa desvalorização de 3,61% frente ao real.
Para o professor de Economia da Fundação Instituto de Administração (FIA) e presidente da Fractal Instituto de Pesquisa, Celso Grisi, as medidas do governo foram acertadas e corajosas, "num momento entre os turnos de eleição. Ele não deixará o problema para o próximo presidente. A tendência é que a cotação do dólar suba, o que é interessante."
Na visão de Grisi, as medidas não devem parar por aí, pois o real é uma moeda forte, estável e líquida - uma moeda de conversão. "Acredito que venha mais chumbo por aí. Talvez no mercado futuro. Se o câmbio não estabilizar, não vejo outra alternativa."
Ele avalia que as medidas para conter a queda do dólar foram bem colocadas porque só atingiram o mercado de renda fixa, poupando as ofertas públicas de ações. "Tivemos IPOs, como o da Petrobras e o do Banco do Brasil, entre tantos outros. O Brasil é próspero e atrai capital, seja para financiar empresas na bolsa, seja em forma de investimentos."
Grisi entende que quando se eleva o IOF pensa-se é em arbitragem de juros. "Não podemos permitir evasão de divisas e arrebentar nossas indústrias por conta de guerra cambial. Isto não vai acontecer porque temos bons fundamentos econômicos. Não alteramos regras, apenas mudamos algo para o especulador."
No caso da compra de dólares pelo Tesouro, o professor entende que a medida força a cotação para patamares melhores. "O organismo vai comprar os recursos externos para pagar dividas externas de até 4 anos. Como tem hedge do dinheiro, se o dólar valorizar-se o Tesouro ganha reais e se puder, ou desejar, pode reverter em moeda local e minimizar a dívida interna", explicou.
Quanto a agentes de mercado questionarem o governo sobre influenciar o câmbio, Grisi discorda. "Pode haver reclamações do pessoal de renda fixa, mas o dinheiro ficará por muito tempo aqui. Afinal, temos obras do PAC, a exploração do pré-sal pela Petrobras, obras para Copa e Olimpíadas. Temos o câmbio flutuante, mas vai obedecer a renda que todo mundo oferece." Sobre o futuro do câmbio, Grisi destaca que o País vive situação semelhante à do Japão. "Temos de baixar juro, embora tenhamos pressões inflacionárias. O primeiro passo foi dado com as medidas adotadas. Agora temos de contingenciar o crédito e baixar prazos. Assim diminui a demanda sustentada pelo crédito e a pressão da inflação cede. Baixa o juro e ativa a economia, depois ativa a demanda de crédito novamente", receitou.
Outro que avalia de forma positiva as medidas do governo é o economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), Rogério Cesar de Souza. Para ele, as medidas são eficazes. "As ideias são boas, terão alcance e podem amenizar a pressão no curto prazo."
Ele acredita que a questão que pode atrapalhar a cotação do câmbio é a taxa de juros (Selic), pois o especulador tira o dinheiro de um país de juros baixos e ganha com a Selic. "A Selic reflete as contas do governo. Precisa enxugar a máquina. A cotação cai por excesso de divisas."
Souza destaca que muitos juristas estão questionando o governo no tocante a o que é mercado financeiro e mercado de capitais. "Ambos são supervisionados pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Como fazer a separação?" questionou.
Outro ponto que ele ressalta é que é necessário saber como os exportadores serão beneficiados coma medida de ampliação do prazo de contratação de operações de câmbio.
Contas do governo
A cifra de US$ 10,7 bilhões que o governo diz ter conquistado como 'poder de compra' considera toda a dívida externa que vence em 48 meses - seja em dólar, euro, real e contratual -, subtraindo-se os vencimentos em 24 meses que já foram praticamente todos adquiridos pelo Tesouro de forma antecipada. O secretário do Tesouro, Arno Augustin, afirmou que a ampliação do prazo para contratação das operações de câmbio tem o objetivo de ajudar a conter a valorização do real.
A pressão sobre a moeda brasileira tem nome. A operação de aumento de capital da Petrobras atraiu tantos estrangeiros que setembro terminou com novo recorde de entrada de dólares para investimentos financeiros no Brasil. Dados do Banco Central mostram que US$ 16,71 bilhões ingressaram no mês passado, maior valor da série iniciada em 1982. Mesmo com as recentes medidas do governo que tentam conter a queda do dólar, o mercado acredita que a entrada de recursos deve continuar, já que o juro brasileiro é muito superior ao padrão internacional e o mercado acionário segue atrativo.
No mês em que a estatal Petrobras realizou a maior oferta de ações da história, o Brasil recebeu volume recorde de dólares na chamada conta financeira, onde são registradas transferências de recursos para compra de ações e títulos de renda fixa, empréstimos, remessas de lucros e investimentos produtivos, entre outras transações. A entrada de dólares em setembro só não foi maior porque o comércio exterior amargou resultado negativo pelo quarto mês seguido. No mês passado, o pagamento às importações superou a receita obtida com exportações em US$ 2,99 bilhões. Assim, o fluxo cambial total terminou setembro com ingresso líquido de US$ 13,73 bilhões.

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