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domingo, 2 de janeiro de 2011

O alerta do BIS é próprio

O Banco Central dos bancos centrais também preferiu o contingenciamento do crédito
Em meados dezembro, anunciou-se que o Banco de Compensações Internacionais- o BIS-, havia concluído pesquisa sobre o uso do crédito em 26 economias. A principal conclusão do trabalho, apontava o Brasil, naquele ano, como o país com maior expansão do crédito, apenas acompanhado pela Coreia do Sul e Cingapura. Estamos em janeiro de 2011.
 Espera-se, a partir do final desse mês, pelo início do crescimento da inadimplência. Portanto, o recado que nos chegou da Basileia, cidade sede do BIS, na Suíça, fez sentido, conquanto o Banco Central do Brasil tenha reagido com uma indignação apenas protocolar. Foi soberbo, arguindo a estabilidade monetária e as mudanças estruturais da economia nacional. Foram elas que, segundo o Bacen, permitiram a expansão creditícia. Faz todo o sentido.
Então, o que há a temer? O rápido processo de expansão endividou a família brasileira e comprometeu parte não desprezível de sua renda. Nos dez últimos anos, a atividade creditícia cresceu a uma taxa nominal média de 15,7% ao ano, alcançando, em 2007, a maior taxa de nossa história econômica, 31,2%. Na crise mundial de 2008, caiu para praticamente a metade, 15,2% e, seguramente, fechará o ano de 2010, com mais 20% de crescimento sobre o ano anterior. Com tudo o que possa ser reconhecido como positivo nesse crescimento, há que se ter em conta que os dados oficiais já haviam apontado, no mês de outubro, que mais de 29% das famílias encontravam-se endividadas e que, nesse momento, haviam comprometido nada menos que 23% de sua renda com pagamentos de empréstimos.
Esse é o ponto que nos obriga a pensar a acelerada velocidade dessa expansão. Enquanto a renda estiver crescendo a velocidade maior que o crédito não haveria, pelo menos , em tese, razões para maiores temores.Mas, todas as previsões têm levado à conclusões contrárias. Os ajustes da contas públicas pedem medidas de cortes no custeio e, nas palavras do Ministro da Fazenda, um retardamento dos investimentos governamentais. São medidas restritivas que produzirão a redução das taxas de crescimento do PIB nacional e, por essa via, uma menor oferta de empregos à população. Em outras palavras, as políticas de emprego e de renda devem sofrer comprometimentos. O quase pleno emprego vivido no atual momento deverá recuar. A oferta de trabalho será menor e os salários devem recuar ou parar de subir tão fortemente. Rendimentos tão comprometidos com empréstimos podem pedir ajustes no âmbito das famílias e a inadimplência certamente crescerá a partir de janeiro. Que fazer diante desse quadro?
O Banco Central do Brasil não tergiversou.
Indignações protocolares à parte, saiu para as medidas macro-prudenciais, aumentando as exigências para o crédito às pessoas físicas, com prazos maiores de 24 meses, e ampliou o depósito compulsório em R$ 61 bilhões. No mercado financeiro as conseqüências mais imediatas foram o encarecimento dos empréstimos, pela menor liquidez, e a maior da capitalização dos bancos para essas operações, que subiu dos 11% para os 16,5%. No fundo, parece que o Bacen levou a sério a recomendação do BIS de reforçar o capital dos bancos brasileiros.
Só para lembrar, as regras da Basileia estabelecem apenas um capital de 8% dos ativos ponderados pelo risco. Estamos com exigências nacionais que são mais dobro da recomendação internacional, mas não vamos nos iludir, porque a estrutura do crédito no Brasil está muito centrada no consumo. Imóveis representam apenas 3,5% do PIB, automóveis foram financiados por prazos extremamente longos e é possível que, depois de algum tempo, seu valor tenha caído tanto que o consumidor entenda que melhor seria entregar o veículo ao banco.

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