Banner

Translate

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Juros, câmbio e crescimento

Bresser defende alta do dólar e Delfim critica nível dos juros
DCI - 11/05/10 -  Fernanda Bompan / agências - CÂMBIO
SÃO PAULO - O ex-ministro da Fazenda e professor emérito da Fundação Getulio Vargas (FGV), Luiz Carlos Bresser-Pereira, defendeu ontem o câmbio a R$ 2,40 sob o dólar, o que, segundo ele, possibilitaria que o Brasil alcançasse nível de crescimento superior aos 3,5% estimados para os próximos anos. "Primeiro, todas as empresas industriais e agrícolas competentes têm uma chance maior para exportar mais e investir mais, assim, o País cresceria no mínimo 50% a mais ou o dobro do previsto", disse ao participar, ontem, de debate sobre o tema, com o Conselho de Economia (Cosec) da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
Neste ano, o governo estima que o Produto Interno Bruto (PIB) cresça 6,5%. "Estamos vivendo uma situação crônica e grave [valorização do real frente às demais moedas, como o dólar]. Os economistas diziam que o Banco Central precisava fazer reservas e fizeram, só que não foi suficiente. Também fizemos o controle de capitais com o aumento do IOF [Imposto sobre Operações Financeiras], mas podemos fazer muito mais. Há mil fórmulas para resolver este cenário", disse. Uma das soluções apontadas pelo ex-ministro da Fazenda é uma maior intervenção do governo na entrada de capitais estrangeiros do País, em vez da saída. "Temos que ser responsáveis do ponto de vista fiscal e cambial, alcançar um equilíbrio na conta do Estado [fiscal] e na conta do País [corrente], resultando em um cenário tranquilo para que não saia mais capital do que entra e sem querer crescer com poupança externa", entende.
"O patamar de R$ 2,20 já seria bom, R$ 2,40 seria excelente, mas acredito que esse valor seja inviável se avaliarmos a atual conjuntura", comenta o presidente da Associação Brasileira de Comércio Exterior (Abracex), Roberto Segatto.
O especialista indica que algumas medidas poderiam facilitar o aumento da variação cambial, como uma taxação maior na saída de capitais com prazos flexíveis. "Quanto mais rápida for a saída de capital, maior a taxa. Apesar de que quanto mais entrar capital melhor para o movimento da Bolsa [Bovespa]", justifica. Além disso, ele também aponta que a permanência de capital do exportador no exterior na quantidade que este preferir valorizaria o dólar. "No entanto, não podemos só nos prender a mudanças no câmbio. Aumentar exportações e instalar um parque industrial eficiente no Brasil, também contribuiriam para mudar a variação cambial ao patamar ideal. Sem isso, o câmbio vai terminar o ano como está hoje entre R$ 1,70 a R$ 1,80", diz.
O também ex-ministro da Fazenda, Antonio Delfim Netto, que esteve no debate da Fiesp, apoia um dólar mais valorizado. Ele disse, entretanto, que o Brasil não deve debater este assunto enquanto não resolver outro problema, ainda mais urgente, que, na sua opinião, é a alta taxa de juros. "O problema está na taxa de juros real do Brasil. Enquanto não tivermos uma taxa real de 3% ao ano, não adianta falarmos de câmbio", explicou Delfim Netto. "O Brasil tem usado a política de metas da inflação como âncora cambial. É evidente que temos que baixar a taxa de juros, o que precisa é de coragem.
A taxa de juros natural era 9% real, há seis anos e agora está por volta de 5%. Podemos melhorar isso", apontou Bresser Pereira. "O problema é ainda o nível de câmbio.
Que o Banco Central quis aumentar a taxa [básica] de juros (Selic), porque a economia está aquecida, eu concordo, mas deveria elevar a taxa [de juros] real a 1% real ou 2%", complementou.
Já o professor da Fia, Celso Grisi, comenta que é importante considerar que um crescimento do PIB superior aos 6% é "muito além do nosso potencial e vai forçar muito os preços, como também o agravamento da pressão inflacionária, principalmente para alimentos e serviços". Ele acredita que neste ano o Brasil avance 5,5%.
Grécia
Bresser-Pereira também questionou a capacidade do governo em controlar gastos, de modo a não conseguir atingir o superávit nas contas correntes. "A crise na Grécia não traz consequência diretas ao País, como também não há nenhuma crise de balança de pagamentos ou fiscal no Brasil. Agora é evidente que estamos no caminho da Grécia e Portugal. Nós voltamos ao déficit de conta corrente", criticou. Segundo estimativa do BC, as transações correntes devem apresentar saldo negativo de US$ 49 bilhões neste ano.
O resultado disso, para ele, é que os investimentos serão desestimulados, assim como vai levar ao aumento do consumo. A solução apontada pelo ex-ministro é que "os governantes atuem com a sociedade".
Para Segatto não se pode comparar Brasil com Grécia, já que o primeiro é produtor e exportador, diferentemente do segundo. "Por isso, o Brasil não pode estar no mesmo caminho da Grécia."Bresser-Pereira afirmou, ainda, que o aporte de 750 bilhões de euros para ajudar os países europeus ameaçados pela crise financeira "era muito necessário".

Nenhum comentário:

Postar um comentário